Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A safra de soja do Brasil 2022/23, com colheita já caminhando para o final em várias regiões, foi estimada nesta quinta-feira em recorde de 153,6 milhões de toneladas, de acordo com levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que passou a projetar uma produtividade média nunca vista no maior produtor e exportador global da oleaginosa.
A colheita já era prevista em recorde, principalmente por um aumento anual de 5% na área plantada, para 43,5 milhões de hectares. Mas no relatório desta quinta-feira a Conab ajustou para cima o indicador de produtividade média nacional ao maior nível já registrado, em 3.527 kg/hectare.
Isso representa alta de 16,6% ante o ciclo anterior e 1 kg/ha acima da maior marca da história, vista em 2020/21, segundo dados da Conab.
Na previsão do mês passado, a estatal ainda projetava rendimento de 3.479 kg/ha no país. O aumento na colheita por hectare colabora com avanço de 2,2 milhões de toneladas na safra total de soja do país na comparação com o número de março da Conab, garantindo um salto anual de 22,4% para o Brasil no total colhido.
"Aumentou a área em todos os Estados produtores... Produtividade média recorde no país, embora o Rio Grande do Sul tenha sido afetado pela restrição hídrica aliada a altas temperaturas... mas todas as lavouras no (restante do) Brasil foram contempladas por condições favoráveis e chuvas regulares", disse a analista de Safras da Conab, Candice Santos, ao explicar os números em transmissão pela internet.
Apesar do menor uso de fertilizantes no país no ano passado por conta dos preços altos, a produtividade média registra forte recuperação ante a temporada anterior, quando uma maior parte do Sul foi afetada severamente pela seca.
"As produtividades fora do Rio Grande do Sul, do Paraná pra cima, todos os Estados... estão muito acima das médias normais, relatos de produtividade muito acima das declaradas nas estatísticas da própria Conab... o regime de chuvas e de insolação foi muito bom, isso acabou compensando o menor uso de fertilizantes", disse o diretor da consultoria Cogo, Carlos Cogo.
Ele lembrou que houve um recuo de 11% nas entregas de adubos em 2022 no Brasil, mas destacou que as reservas de solo evitaram que a produtividade sofresse por falta de fertilizante em um primeiro ano. Para 2023/24, não é esperado grande problema neste aspecto, já que os preços do insumo estão abaixo das máximas de 2022.
Mas também é fator importante no ciclo atual a área plantada com soja, com o maior crescimento anual em nove anos no Brasil em meio à boa rentabilidade da cultura, segundo a consultoria StoneX.
Com o crescimento da safra e boa demanda externa, o Brasil deverá exportar um volume recorde de soja de 94,35 milhões de toneladas, ante 92,99 milhões na previsão de março. O total, se confirmado, representaria forte aumento na comparação com o alcançado na temporada anterior (78,7 milhões de toneladas).
MILHO
Já a safra total de milho do Brasil 2022/23 foi prevista em históricas 124,9 milhões de toneladas, com ligeira alta na comparação com a projeção divulgada no mês passado, segundo a estatal. Em relação à temporada passada, o aumento é de 10,4%.
A Conab projetou a segunda safra de milho em 95,3 milhões de toneladas, ante 95,6 milhões estimados no mês passado, enquanto elevou a previsão da colheita no verão para 27,2 milhões de toneladas e manteve a terceira safra estável em 2,3 milhões de toneladas.
"Esse aumento na produção total é resultado do aumento de área de milho segunda safra em conjunto com uma recuperação da produtividade projetada em campo das três safras. Cabe destacar que a Conab projeta um aumento de 1,8% na área plantada e de 8,4% na produtividade do setor", disse o relatório.
A Conab ainda manteve a previsão de exportação de milho do Brasil em recorde de 48 milhões de toneladas para 2022/23, o que apagaria a melhor marca da história do ano anterior, de 46,6 milhões de toneladas.
Para a safra total de grãos e oleaginosas 2022/23, a previsão atual é de 312,5 milhões de toneladas, contra 309,9 milhões na estimativa de março, avanço de cerca de 15% na comparação anual, com impulso das colheitas de soja e milho.
A Conab ainda fez ajuste na safra de algodão do Brasil para 2,73 milhões de toneladas da pluma, ante 2,78 milhões na previsão de março, mas ainda um aumento anual de 7,1%.