Por Noah Browning
LONDRES (Reuters) - Os cortes de produção anunciados pelos produtores da Opep+ correm o risco de acentuar um déficit de oferta de petróleo esperado no segundo semestre do ano e podem prejudicar os consumidores e a recuperação econômica global, disse a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) nesta sexta-feira.
A Opep+ e a IEA vêm disputando nos últimos meses em relação às suas perspectivas para o fornecimento e a demanda global de petróleo.
Os países consumidores representados pela IEA argumentam que o aperto na oferta eleva os preços e pode ameaçar uma recessão, enquanto a Opep+ culpa a política monetária ocidental pela volatilidade do mercado e pela inflação que reduz o valor do petróleo.
"Os balanços do mercado de petróleo já caminhavam para um aperto no segundo semestre de 2023, com o potencial de surgimento de um déficit substancial de oferta", disse a IEA em seu relatório mensal de petróleo.
"Os últimos cortes correm o risco de agravar essas tensões, elevando os preços do petróleo e dos produtos. Os consumidores atualmente sob o cerco da inflação sofrerão ainda mais com os preços mais altos."
A Opep+ classificou sua decisão de corte surpresa como uma "medida de precaução" e, em um relatório mensal do petróleo publicado na quinta-feira, a Opep citou riscos baixistas para a demanda de petróleo no verão devido aos altos níveis de estoque e desafios econômicos.
A IEA disse que espera que a oferta global de petróleo caia em 400.000 barris por dia (bpd) até o final do ano, citando um aumento esperado de produção de 1 milhão de bpd fora da Opep+ a partir de março, contra um declínio de 1,4 milhão de bpd do bloco de produtores.
O aumento dos estoques globais de petróleo pode ter influenciado a decisão da Opep+, acrescentou a IEA, observando que os estoques da indústria da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em janeiro atingiram seu nível mais alto desde julho de 2021, em 2,83 bilhões de barris.
O cenário da demanda será distorcido pelo crescimento medíocre nos países da OCDE e pela recuperação da demanda liderada pela China após o relaxamento de suas restrições à Covid-19, disse a AIE.
Enquanto isso, as exportações de petróleo da Rússia em março atingiram seus níveis mais altos desde abril de 2020 devido aos fluxos robustos de derivados de petróleo, disse a AIE, apesar de uma proibição de importações marítimas da União Europeia e uma política de sanções de limite de preço liderada pelos Estados Unidos.
A receita da Rússia em março aumentou 1 bilhão de dólares mês a mês, para 12,7 bilhões de dólares, mas ainda foi 43% menor do que no ano anterior, em parte devido aos preços limitados de suas exportações marítimas de petróleo.
(Por Noah Browning)