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Desempenho do milho safrinha põe em risco confinamento no segundo semestre

Publicado 16.04.2020, 16:25
© Reuters. .
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Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) - Uma oferta de milho na segunda safra do Brasil menor do que a projetada, por queda no potencial produtivo devido a questões climáticas, pode prejudicar a entrada de bovinos no segundo giro de confinamento do Brasil, já afetada pelos impactos do coronavírus ao setor de carnes, segundo especialistas.

O cereal é utilizado como base para a alimentação dos animais confinados e será uma das principais despesas do pecuarista que optar pelo confinamento neste ano, disse o consultor em Gerenciamento de Riscos especializado em pecuária da INTL FCStone, Caio Toledo.

O desenvolvimento da segunda safra de milho 2019/20 do Brasil vem sendo acompanhado de perto por produtores de carnes, especialmente pelos pecuaristas confinadores, que no caso também têm a opção de deixar o gado no pasto --ainda que no sistema extensivo o animal demore mais para ficar pronto para o abate.

As previsões para a colheita do milho de inverno do Brasil ainda apontam para grandes volumes, acima de 70 milhões de toneladas, mas abaixo do potencial de um ciclo que teve plantio recorde. Além disso, as próximas semanas serão fundamentais para a definição da safra, e as chuvas não estão muito regulares em partes da metade sul do país.

O Indicador do milho Esalq/B3 fechou em 52,20 reais por saca de 60 quilos nesta quarta-feira, alta de 42,2% ante a média de 36,71 reais registrada um ano antes.

"Hoje, o confinador não está comprando milho a estes preços. A aposta do pecuarista é que a produção da safrinha seja alta e venha uma redução de preços bem quando são feitas as aquisições para a dieta do gado que entrará no segundo giro de confinamento, entre julho e agosto", afirmou à Reuters o gerente de categoria Confinamento da DSM, Marcos Baruselli .

A DSM, dona da marca Tortuga, é uma das principais companhias do setor de alimentação animal e, antes do surto da Covid-19, chegou a prever um recorde de 6 milhões de cabeças confinadas para 2020.

"Mas, no atual cenário, a expectativa é manter o volume de animas em terminação intensiva entre o mesmo do ano passado, de 5,2 milhões de cabeças, e uma alta de 6%, para 5,5 milhões", disse, na perspectiva mais otimista.

Até o final de fevereiro, os custos já estavam altos, mas o mercado futuro sinalizava arroba acima de 200 reais, o que tornava a operação rentável, lembrou o gerente-executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Bruno de Jesus Andrade.

"A partir do momento em que começaram os 'lockdowns', revisões do PIB e projeções de queda na demanda interna (por carne bovina), a curva do preço futuro do boi gordo caiu."

Segundo Toledo, consultor da FCStone, a arroba bovina está cotada em torno de 188 reais para setembro e outubro, período em que os animais saem do confinamento.

"Para a conta fechar, precisaríamos que a curva do preço futuro melhorasse ou que o custo do animal de reposição caísse, o que é mais difícil de acontecer", explicou.

Embora o confinamento seja cada vez mais buscado por aqueles produtores que buscam incrementar a produtividade no Brasil, esse sistema representa uma parte menor da produção pecuária brasileira, muito mais focada nos animais criados a pasto, que respondem cerca de 85% do total.

CONTRATOS

Embora não sejam a maioria, pecuaristas de maior porte podem se beneficiar da demanda garantida por meio de contratos previamente acordados, pontuou o gerente da Assocon.

O diretor-executivo da Agro Pastoril Paschoal Campanelli, Victor Campanelli, disse à Reuters que mantém um contrato com a JBS (SA:JBSS3) e fornece matéria-prima diariamente. "Nosso custo fixo fica diluído ao longo do ano... Não vivemos de preço, vivemos de margem", acrescentou.

Ele lembrou que um fator positivo para o setor foi a suspensão de abates adotada por alguns frigoríficos em março, medida que ajudou a reduzir a oferta de carne no mercado interno e equilibrar com a demanda.

"Não estamos vendo sobras de carne, o que limita a queda de preços", explicou Campanelli.

© Reuters. Agricultor com porção de milho da

A Agro Pastoril Paschoal Campanelli atua nas áreas de recria e engorda, com terminação intensiva, e abate de 400 a 500 cabeças por dia.

(Por Nayara Figueiredo)

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