Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Paraná, maior produtor de trigo do Brasil no ano passado, tem condições de colher uma safra histórica do cereal em 2015 de 4 milhões de toneladas, superando o recorde de 2014, mas o fenômeno climático El Niño, que tradicionalmente traz chuvas para o Sul durante a colheita, é uma ameaça.
O Paraná plantou 61 por cento do trigo até o momento, avançando nos trabalhos após um atraso inicial por problemas climáticos e igualando o ritmo de semeadura do mesmo período do ano passado.
Com chuvas recentes, as condições para a germinação estão "excelentes" na maior parte das áreas, disse o especialista em trigo Carlos Hugo Godinho, do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão do governo do Estado.
Mas ele alertou que, a exemplo do ano passado, chuvas na colheita podem limitar a produção, ainda mais agora que o plantio terá recuo de 5 por cento ante 2014, para 1,32 milhão de hectares, uma queda maior do que a estimativa do Deral de abril, que apontava redução de 3 por cento.
"A margem (para o recorde) está ficando pequena, a gente teve um El Niño fraco no ano passado, e a mesma previsão agora, inclusive de El Niño efetivamente, indica um período chuvoso. Foi exatamente isso que levou quase 10 por cento da produção do ano passado", afirmou Godinho à Reuters.
No ano passado, o Paraná colheu um volume jamais registrado de 3,8 milhões de toneladas de trigo, mas ainda assim abaixo do potencial.
"Está ficando complicado conseguirmos (um novo recorde)", acrescentou.
Uma boa produção de trigo no Brasil ajuda o país a reduzir suas necessidades de importação. O país é um importador líquido do cereal.
No Sul, onde está também o Rio Grande do Sul, outro grande produtor de trigo do país, o El Niño pode trazer chuvas acima da média especialmente de maio até julho, declarou à Reuters o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Imnet) Fabrício Daniel dos Santos Silva.
No ano passado, a safra gaúcha foi seriamente afetada por chuvas, com a colheita ficando em 1,5 milhão de toneladas, ou cerca de 50 por cento abaixo do potencial.
Os dois Estados sulistas respondem por grande parte da safra nacional, estimada em 2015 pelo Ministério da Agricultura em 7 milhões de toneladas, o que também seria um recorde, ante 6 milhões em 2014.
O governo federal estima uma recuperação para a produção do Rio Grande do Sul deste ano, para 2,7 milhões de toneladas, em condições climáticas normais, ou seja, sem influência do El Niño.
MILHO
O Deral também estimou a segunda safra de milho do Paraná 2014/15 em recorde de 10,4 milhões de toneladas, com chuvas favoráveis registradas no Estado.
"Estamos mantendo a área da previsão passada, praticamente igual à da safra 13/14 (1,894 milhão de hectares)", disse o técnico do milho do Deral Edmar Gervásio, comentando a atualização de safra do departamento.
Segundo ele, a estimativa de produtividade é muito boa por conta do clima favorável, podendo até superar as expectativas.
A produtividade média projetada é de 5,487 toneladas por hectare. "Obviamente que é um cenário conservador, estamos esperando que seja maior que isso, pelas condições de clima favorável."
No ano passado, o Paraná colheu históricas 10,35 milhões de toneladas.
Segundo o Deral, 2 por cento da área de milho "safrinha" já foi colhida no Estado.