Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A fila de navios para carregar açúcar no Brasil mais que dobrou na última semana, sinalizando volumes tão elevados quanto os registrados em período no qual o país teve recorde mensal de exportações, disse o presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, à Reuters.
A afirmação foi feita após o Brasil embarcar nas duas primeiras semanas deste mês 1,57 milhão de toneladas do produto, já superando o volume embarcado em todo o mês de maio de 2019, de acordo com dados do governo.
"Em sinal do aquecimento da demanda pelo açúcar brasileiro, a fila para o embarque de açúcar mais que dobrou nesta semana, de 27 para 56 navios agendados para carregar 2,642 milhões de toneladas, volume quatro vezes superior ao programado há exatamente um ano", disse Nastari, fundador da consultoria.
A moagem da safra de cana do Brasil começou recentemente, com o setor priorizando o açúcar, que ganhou mais vantagem em relação ao etanol, cujo mercado foi afetado pelo impacto das medidas para combater o coronavírus. No caso do adoçante, o dólar em máximas históricas favorece os embarques ao exterior.
Segundo Nastari, na última vez que a programação de embarques atingiu esta marca, em setembro de 2017, o Brasil bateu recorde de exportação mensal, com 3,5 milhões de toneladas.
Entre os principais destinos, destaque para a China que deve absorver 14% do volume programado para o embarque, ou 367 mil toneladas, seguida pelo Egito, com 8,8%, e pela Indonésia, com 7%.
Os embarques de açúcar (bruto e refinado) do Brasil atingiram 5,85 milhões de toneladas no primeiro quadrimestre do ano, ante cerca de 4,5 milhões no mesmo período do ano passado, segundo dados do governo.
O Brasil aumentará a produção de açúcar em 18,5% na safra 2020/21, para 35,3 milhões de toneladas, com uma maior destinação de cana para a produção do adoçante, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Segundo a Conab, o real desvalorizado em relação ao dólar, as vendas antecipadas de grande parte da produção, quebra da produção mundial na safra 2019/20 e expectativa de ampliação da produção brasileira na temporada 2020/21 contribuem para o aumento das exportações brasileiras neste ano.
Cerca de 80% do açúcar a ser exportado pelo Brasil já foi negociado antecipadamente, com o setor aproveitando preços mais altos da commodity entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020, antes, portanto, dos impactos mais severos do coronavírus.