Por Nidal al-Mughrabi
GAZA (Reuters) - Os comerciantes e consumidores de Gaza estão colhendo frutos prematuros das manobras de reconciliação entre os islâmicos do Hamas, que dominam o enclave, e a Autoridade Palestina, que tem respaldo do Ocidente.
Restrições impostas por Israel nas fronteiras, incluindo uma proibição quase total a exportações de Gaza, e três guerras desde 2008 provocaram grandes privações no território. Israel diz que suas regras são ditadas por temores com a segurança, acusando o Hamas de ter usado material importado para construir armas, inclusive foguetes que foram disparados contra suas cidades.
Desde que o Hamas cedeu as passagens de fronteira de Gaza com Israel –o principal portão de entrada a importações comerciais– à Autoridade Palestina em 1º de novembro, conforme um acordo de união mediado pelo Egito, muitos preços diminuíram no território.
O principal motivo é que a Autoridade Palestina cancelou as sobretaxas que o Hamas coletava dos comerciantes de Gaza em dinheiro, que às vezes chegavam a 25 por cento.
Os negócios, por sua vez, repassaram parte dessa economia aos consumidores: um Kia Picanto de 2017, por exemplo, hoje é vendido por 20 mil dólares, em vez de 22.500 dólares, e um quilo de carne bovina custa 11 dólares, e não mais 15 dólares.
Nesta semana a Autoridade Palestina, que recebe seu próprio imposto graças a um arranjo acertado com Israel, permitiu a importação de cigarros que custam oito shekels, e não os 21 shekels de outras marcas, através da passagem comercial israelense de Kerem Shalom pela primeira vez.
Antes os cigarros só entravam contrabandeados pelos túneis debaixo da divisa egípcia, mas a Autoridade Palestina está buscando acordos com o Hamas e o Cairo para interromper esse canal.
"(As taxas do Hamas) levavam a um enfraquecimento do poder de compra, porque o povo de Gaza vive sob condições econômicas ruins e por causa do bloqueio israelense e da perda de empregos", disse Tareq Al-Saqqa, proprietário de uma empresa de produtos eletrônicos de Gaza, onde o desemprego chega a 40 por cento.
Citando a preocupação com a segurança, Israel e Egito mantêm restrições severas em suas fronteiras com Gaza. O Hamas, visto pelo Ocidente como um grupo terrorista, tomou o enclave em 2007 ao combater forças leais ao presidente palestino, Mahmoud Abbas.