Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - O embarque de grãos pelos portos brasileiros no segundo semestre deverá ser o maior da história, impondo desafios operacionais para as empresas do agronegócio, com o mês de agosto despontando com volumes recordes nas exportações combinadas de soja e milho, segundo estimativas da consultoria Agroconsult.
O Brasil está no pico dos embarques de uma safra recorde de soja, de 96 milhões de toneladas, e a partir de agosto começa a exportar uma também recorde segunda safra de milho, de 51,4 milhões de toneladas.
"Está tudo muito no limite, principalmente no mês de agosto. Não pode dar nada errado", disse à Reuters o analista Marcos Rubin, sócio da Agroconsult, referindo-se aos desafios logísticos de exportar tais volumes.
A consultoria utiliza metodologia própria para estimar os embarques de grãos do país, tomando como base os dados das escalas de navios que aportam no Brasil, divergindo dos números oficiais da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
"Este ano existe uma diferença bastante significativa entre o que a Secex alega ter sido exportado de janeiro a maio de soja e o que os 'line ups' indicam", afirmou Rubin, para quem os registros oficiais da alfândega brasileira podem sofrer atrasos em função da burocracia e outros fatores.
Pela estimativa da Agroconsult, nos cinco primeiros meses do ano, o Brasil exportou 27 milhões de toneladas de soja e 3,1 milhões de toneladas de milho, totalizando 30,1 milhões de toneladas. Pela Secex, os embarques combinados foram de 27,6 milhões de toneladas.
Entre junho e dezembro, a projeção é que sejam exportados 22 milhões de toneladas de soja e mais 24 milhões de toneladas de milho, somando 46 milhões de toneladas. Até agora, o melhor desempenho para esse período foi em 2013, com volumes combinados de 39 milhões de toneladas.
Os meses de junho, julho e agosto deverão ser os mais movimentados para a oleaginosa, com exportações de 20 milhões a 21 milhões, restando apenas volumes marginais para os meses de setembro a dezembro.
"A partir de agosto, a gente começa a ter volumes bem expressivos de milho. Este é o mês crítico. A partir de setembro, os volumes de soja despencam", destacou o analista.
Rubin lembrou que uma eventual semana de chuvas no porto de Paranaguá (PR) em agosto, por exemplo, o que não é incomum, poderia atrasar embarques.
Ele lembrou que nem todos os portos do Brasil participam dos embarques de milho, no fim do ano, já que estão em regiões sem excedente exportável. É o caso de Rio Grande (RS), São Francisco (SC) e Aratu (BA), por exemplo.
NOVA CAPACIDADE
Apesar de uma safra maior para ser exportada, o Brasil deverá contar também com ganhos de capacidade nos portos para conseguir realizar os embarques recordes projetados.
A Agroconsult estima um ganho de quase 800 mil toneladas mensais em capacidade efetiva de embarque nos últimos dois anos.
Enquanto a Secex aponta maio de 2015 como o mês de embarques recordes combinados de soja e milho no Brasil (9,38 milhões de toneladas), a Agroconsult calcula o recorde em abril (9,25 milhões de toneladas), superando o recorde de abril de 2013 (8,46 milhões de toneladas).
Os ganhos de capacidade portuária têm ocorrido principalmente com novos terminais no Norte do país.
No porto de Itaqui, em São Luís (MA), onde a Vale opera um terminal de grãos e onde acaba de ser inaugurado o Tegram, houve um ganho de 370 mil toneladas em capacidade de embarque em maio deste ano na comparação com o melhor mês de 2014.
Já em Barcarena (PA), onde a Bunge está operando um novo terminal exportador, foram embarcadas 290 mil toneladas a mais no último mês na comparação com maio de 2014.
"O aumento de capacidade desses portos começou a aparecer nos dados de exportação a partir de abril. Pode até ser que essa performance melhore em junho e julho", estimou Rubin. "A gente vai de fato testar os novos terminais do Norte, que já estão em operação e com certeza vão ser bastante exigidos."
DEMANDA PELO MILHO
Além da capacidade portuária, a demanda externa é outro desafio enfrentado todos os anos pelas exportações de milho do Brasil no segundo semestre. Afinal, serão quase 24 milhões de toneladas do cereal que deverão encontrar compradores nos últimos cinco meses do ano.
"Vamos ter que ser competitivos em preços, especialmente se os Estados Unidos tiverem uma boa safra de milho, mas a gente tem se aproveitado de alguns fatores positivos", destacou Rubin.
Segundo ele, apesar da colheita da nova safra norte-americana de grãos a partir de setembro, os produtores de lá têm dado prioridade para embarcar primeiro a soja, que é mais rentável.
"Nosso milho entra antes que o dos EUA. O segundo semestre não é o 'grosso' das exportações de milho dos EUA", destacou o analista.
Além disso, a moeda brasileira desvalorizada ante o dólar deve ajudar na formação de preços no Brasil, destravando as vendas dos produtores.
"Com o câmbio a 3,10 reais, ou até mais depreciado que isso, a gente consegue ser competitivo. Isso não significa ter preço excelente para o produtor, mas talvez tenhamos preços perto do mínimo em Mato Grosso", estimou Rubin.
O contrato futuro de milho com entrega em setembro está sendo negociado a 25,09 reais por saca de 60 kg nesta quinta-feira na BM&FBovespa (SA:BVMF3), contra valor de cerca de 24,8 reais/saca no mercado físico esta semana, segundo o Indicador Esalq.