Por Jeb Blount, Marta Nogueira e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Conselho de Administração da Petrobras (SA:PETR4) está pressionando a diretoria a apresentar os critérios da metodologia utilizada pela companhia para definir os preços dos combustíveis no mercado interno, uma questão fundamental para a garantia da prometida paridade com as cotações internacionais, disseram à Reuters três fontes com conhecimento do assunto.
A falta de transparência, observada também na gestão da ex-presidente da Petrobras Maria das Graças Foster, acontece apesar de uma postura de cobrança do atual Conselho, com perfil mais técnico, sem integrantes políticos, militares e ministros de Estado, como no passado.
A discussão sobre uma fórmula para a paridade de preços, que visa evitar prejuízos como os registrados anteriormente, ocorreu na última reunião de Conselho em 24 de julho. Mas o diretor de Abastecimento da empresa, Jorge Celestino, não trouxe novidade aos conselheiros.
"Ele disse (ao Conselho) o mesmo que tem dito à imprensa, que vão praticar preços competitivos e de mercado", afirmou uma das fontes, preferindo ficar no anonimato.
A ausência de explicações sobre a metodologia adotada pela empresa para definir preços dos combustíveis era uma queixa recorrente também de parte do Conselho anterior.
Ao deixar o colegiado neste ano, o ex-representante dos funcionários Silvio Sinedino afirmou que a empresa sofreu "constrangimento de caixa pelo subsídio aos combustíveis comandado pelo governo, acionista majoritário", que visava evitar repasses de preços à inflação. Ele disse também que aquela política colaborou para a estatal acumular "a maior dívida corporativa do planeta".
O novo plano de investimentos da Petrobras 2015-2019 tem como premissa a paridade de preços de combustíveis e também depende da conclusão de um ambicioso plano de desinvestimentos, que soma mais de 15 bilhões de dólares apenas até o fim do próximo ano.
Por muitos anos, a empresa amargou prejuízos bilionários na divisão de Abastecimento ao importar gasolina e diesel por valores mais altos do que os praticados na venda dos produtos no mercado interno.
Procurada, a Petrobras não tinha representantes disponíveis para comentar o assunto imediatamente.
PARCERIAS AFETADAS?
A falta de transparência no tema afeta a atração de parceiros para a conclusão de projetos de refino.
"Quem no seu perfeito juízo iria comprar uma refinaria ou uma participação em uma refinaria da Petrobras se não existe uma fórmula clara que permitirá vender seu próprio produto?", questionou uma das fontes.
"Como os investidores podem levar a empresa a sério quando ela continua prometendo uma política, mas não fornece informações sobre ela?"
Estão em jogo os planos da empresa na busca por sócios para concluir a construção do chamado Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da Refinaria do Nordeste (Abreu e Lima), conforme está previsto no atual plano de negócios e gestão.
Já uma fonte da Petrobras, que também falou na condição de anonimato, disse que há discussões de parceria em curso no Comperj, mas "a modelagem não está pronta e não é algo rápido".
A fonte não elaborou sobre o que falta para o negócio deslanchar.
"A perspectiva é que até o ano que vem a gente feche essa questão do Comperj. Trabalhamos com um perspectiva de até o meio de 2016", afirmou a fonte.
"Temos 5 mil pessoas trabalhando lá, há contratos em vigor, mas, enquanto não houver um parceiro, o projeto não é concluído."
Segundo essa fonte da Petrobras, a gasolina está atualmente cerca de 3 por cento mais barata no Brasil do que no exterior, enquanto o diesel está entre 3 e 4 por cento mais caro.
"A gasolina está com tendência de cair no mercado internacional, por conta do fim do verão norte-americano. O diesel tem tendência de subir com o início do inverno (no hemisfério norte). Os preços estão bem alinhados", disse.
A fonte afirmou ainda que "a política é de preços competitivos", mas que é preciso observar também o mercado interno, que registra um recuo no consumo de diesel e gasolina por conta da crise, e não somente as cotações internacionais. "Não adianta querer aumentar se não tem demanda suficiente."
Ainda que sem conhecer a fórmula de reajuste, o Conselho está convencido de que um aumento de preço dos combustíveis agora não seria favorável, segundo as três fontes, até porque poderia inibir ainda mais o consumo.
Mas os conselheiros não querem ser surpreendidos por uma mudança de conjuntura.