Por Emma Farge
GENEBRA (Reuters) - Moscou apresentou preocupações à Organização das Nações Unidas sobre um acordo para exportações de grãos do Mar Negro e está preparada para rejeitar a renovação do acordo no próximo mês, a menos que suas exigências sejam atendidas, disse à Reuters nesta quinta-feira o embaixador da Rússia na ONU em Genebra.
O acordo, intermediado pela ONU e pela Turquia em julho, abriu caminho para a Ucrânia retomar as exportações de grãos a partir dos portos do Mar Negro que estavam fechados desde a invasão russa. Moscou ganhou garantias para suas próprias exportações de grãos e fertilizantes.
O acordo ajudou a combater uma crise alimentar global: Rússia e Ucrânia são dois dos maiores exportadores de grãos do mundo e a Rússia é o maior exportador de fertilizantes. Mas Moscou tem reclamado repetidamente de sua implementação, argumentando que ainda enfrenta dificuldades para vender fertilizantes e alimentos.
Em entrevista à Reuters, Gennady Gatilov, embaixador da Rússia nas Nações Unidas em Genebra, disse que Moscou entregou uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na quarta-feira, estabelecendo uma lista de queixas. Autoridades da ONU devem estar em Moscou no domingo para discutir a renovação do acordo.
"Se virmos que nada está acontecendo no lado russo do acordo - exportação de grãos e fertilizantes russos - então com licença, teremos que olhar de uma maneira diferente", declarou.
Ele se recusou a disponibilizar uma cópia da carta. Um porta-voz das Nações Unidas não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Questionado se a Rússia pode recusar apoio à renovação do acordo de grãos por causa das preocupações, ele disse: "Existe uma possibilidade... Não somos contra entregas de grãos, mas este acordo deve ser igual, deve ser justo e implementado de forma justa por todos os lados."
Gatilov, um diplomata de carreira que foi vice-ministro das Relações Exteriores antes de assumir o cargo em Genebra, afirmou que vê poucas perspectivas de um acordo negociado para a guerra de quase oito meses na Ucrânia. Ele citou o que chamou de "atos terroristas", como uma explosão em uma ponte para a Crimeia.
"Tudo isso torna mais difícil chegar a uma solução política", disse ele.