Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - As fortes exportações brasileiras de diesel e gasolina entre janeiro e abril são "surpreendentes", mas não devem se repetir com frequência, mesmo diante da possibilidade de um segundo ano consecutivo de queda nas vendas internas, após cinco anos de alta, afirmou à Reuters o recém-empossado diretor da autarquia do setor de petróleo (ANP), Aurélio Amaral.
Além de a capacidade de produção de diesel e gasolina no Brasil não atender toda a demanda, exigindo importações, o diretor ressaltou que a Petrobras (SA:PETR4) está vendendo o combustível no país por preços acima do internacional ao longo de todo o ano, o que não favorece as vendas externas.
Na avaliação de Amaral, as exportações podem ter sido fruto de oportunidades muitos específicas e atrativas para lidar com algum excedente do setor de refino.
"(Em geral) é um movimento de perda de dinheiro exportar neste momento... Olhando o preço internacional e o preço interno, é muito difícil essa exportação, não tem paridade", disse o diretor, em sua primeira entrevista após tomar posse em abril.
Na segunda-feira, o preço da gasolina nas refinarias nacionais estava 22,8 por cento acima do preço no Golfo do México, segundo os últimos dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Na mesma data, o preço do óleo diesel nas refinarias nacionais estava 46 por cento acima do preço no Golfo do México, uma região de referência para o mercado norte-americano.
As exportações brasileiras de diesel somaram 245,5 mil barris em abril, ante nenhuma venda externa no mesmo mês do ano passado, contribuindo para uma alta de 192,4 por centro nos primeiros quatro meses de 2016, ante o mesmo período de 2015, segundo dados da ANP publicados nesta quinta-feira.
O forte aumento nas exportações acontece após uma grande queda nos embarques de diesel em 2015, quando a Petrobras praticou preços mais altos no país do que no exterior, o que não acontecia há muitos anos.
As exportações de gasolina somaram 948,549 mil barris em abril, ante 955 barris embarcados no mesmo mês do ano passado, permitindo um salto das vendas externas de 996,5 por cento nos quatro primeiros meses do ano, em relação a um ano antes.
"Não é a dinâmica de mercado que a gente visualiza ao longo do ano, a tendência é a gente continuar importador, dado que nosso parque de refino não supre toda a demanda", afirmou Amaral, que assumiu a diretoria em meio a uma das piores crises econômicas e políticas do Brasil na história recente.
Com mandato de quatro anos, Amaral ocupa a diretoria responsável pelas superintendências da ANP de Abastecimento, Fiscalização do Abastecimento, Biocombustíveis e Qualidade de Produtos e Definição de Blocos.
ESTABILIDADE NAS VENDAS?
Em meio à crise econômica, o diretor acredita que as vendas de combustíveis podem ficar estáveis em 2016 ante 2015, mas, para isso, a economia precisa reagir ao longo do ano.
"Se a economia não reagir, não tem como, o diesel volta a cair novamente", afirmou Amaral.
O diesel é o combustível mais vendido no Brasil e o que mais reflete o comportamento do PIB.
Já em relação ao ciclo otto (que inclui etanol e gasolina), o diretor explicou que o consumo ficou estável nos primeiros três meses do ano, que são os últimos dados publicados, com uma recuperação da competitividade da gasolina em relação ao etanol hidratado, que passava pela entressafra.
Agora, segundo o diretor, com o início da safra, os preços do etanol já começaram a cair em alguns dos Estados produtores, o que deve contribuir com uma inversão do quadro, com uma recuperação das vendas de etanol e queda da gasolina.
Nas áreas pelas quais ficará responsável pelos próximos quatro anos, Amaral acredita que o principal desafio será contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira para garantir o abastecimento de combustíveis em todo o país.
Segundo ele, como o país é deficitário, precisa do desenvolvimento de novas alternativas para garantir o abastecimento futuro, como a construção de novas refinarias e também de nova infraestrutura para facilitar o recebimento e escoamento de combustíveis vindos do exterior.
Já em relação ao setor de petróleo como um todo, Amaral acredita que a agência tem como grande desafio lidar com o novo patamar dos preços do petróleo Brent, que atualmente operam abaixo dos 50 dólares por barril, ante os mais de 100 dólares há cerca de dois anos.
"A agência precisa estar atenta a isso para ver como ela pode trabalhar nessa conjuntura criando elementos e olhando a cadeia de forma estimular a atividade", afirmou o diretor.