Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A exportação de energia elétrica pelo Brasil a países vizinhos deve render cerca de 500 milhões de reais em receitas extraordinárias para o setor elétrico no acumulado de janeiro a abril, disse nesta segunda-feira a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Segundo o presidente do conselho da CCEE, Rui Altieri, o Brasil já exportou quase 3.490 megawatts (MW) médios de energia de janeiro a março para Argentina e Uruguai, somando aproximadamente 342 milhões de reais. Para abril, a estimativa é de receitas em torno de 150 milhões de reais, acrescentou.
O Brasil começou neste ano a exportar energia elétrica para Argentina e Uruguai sob uma nova modalidade, envolvendo transações comerciais de energia excedente produzida quando há vertimento nos reservatórios de usinas hidrelétricas.
Os valores angariados com as exportações são rateados entre os participantes do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), espécie de "condomínio" das hidrelétricas, criado para mitigar o risco de geração dessas usinas pelo compartilhamento de ônus e bônus.
"Exportamos o (volume de energia) que eles (Argentina e Uruguai) pediram... Não houve limitação física nem de geração, de transmissão", explicou Altieri a jornalistas nesta segunda-feira.
A quantidade de energia exportada foi impulsionada pelas boas condições de chuvas no Brasil neste ano, que devem permitir que os reservatórios fechem o mês de abril no melhor patamar desde 2007, segundo projeções do operador nacional ONS.
Os envios devem cessar daqui para a frente com o encerramento do período chuvoso, já que as hidrelétricas devem deixar de verter energia.
ABERTURA DO MERCADO LIVRE (NASDAQ:MELI)
Altieri afirmou ainda que o número de comercializadoras "varejistas", que atuam junto a pequenos consumidores de energia, deve praticamente dobrar em 2023, chegando a 100 empresas habilitadas a operar pela CCEE.
O crescimento do chamado "varejo" do setor elétrico ocorre na esteira da abertura do mercado livre, no qual consumidores negociam a contratação de sua energia diretamente com fornecedores, como geradoras e comercializadoras.
Uma portaria editada pelo governo passado deu impulso ao processo de liberalização ao estabelecer que, a partir de 2024, todos os consumidores conectados em alta tensão estarão aptos a aderir ao mercado livre.
Na prática, isso significa que pequenas e médias empresas poderão comprar energia em um mercado hoje restrito a grandes companhias e indústrias e que, em geral, oferece preços de energia mais atrativos do que os do mercado cativo, das distribuidoras.
Estima-se que, com a medida de abertura do mercado, pouco mais de 100 mil unidades consumidoras poderão aderir ao chamado "ACL".
"Tem muito comercializador preparado (para a abertura de mercado), agora é uma nova forma de comercializar (energia)... Estamos com grandes expectativas", comentou Altieri.
Ele apontou que o principal "competidor" do mercado livre tem sido a geração distribuída solar, outro segmento que cresce a taxas aceleradas no Brasil em razão de seus benefícios tarifários.
Um estudo feito pela CCEE no ano passado mostrou que 55 mil unidades consumidoras da alta tensão não poderão migrar ao mercado livre a partir de 2024 por já terem optado pela instalação de seus próprios sistemas de geração, como telhados solares.
(Por Letícia Fucuchima)