Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A exportação de milho do Brasil para a União Europeia aumentou mais de 80% no acumulado do ano até agosto, após os embarques dobrarem no mês passado, com europeus fiando-se nos brasileiros para complementar uma redução nos embarques da Ucrânia, segundo especialistas e integrantes do setor.
Com uma quebra drástica da safra de milho da UE pela seca, é possível que os negócios entre o Brasil e os europeus sigam em patamares acima da média nos próximos meses, enquanto há incertezas sobre a constância das exportações ucranianas para nações europeias.
"O ponto aqui é que a Ucrânia não vai conseguir suprir toda a necessidade de milho da Europa, pode ser que o Brasil consiga pegar uma parte nesta fatia nos próximos meses. O Brasil ainda tem uma boa parte do milho a ser vendida, temos um grande volume para ser comercializado", disse o analista da S&P Global Gabriel Faleiros, à Reuters.
As exportações de milho do Brasil para a União Europeia cresceram 82,6% entre janeiro e agosto ante o mesmo período do ano passado, para 3,67 milhões de toneladas, um aumento em ritmo maior do que o visto para todos os destinos, de 79,6%, uma vez que o país este ano está tirando proveito de uma safra recorde, ao passo que em 2021 houve uma quebra severa pela estiagem e geadas.
O mês de agosto respondeu pela maior parte dos embarques do ano do Brasil para a UE, com 2 milhões de toneladas, o dobro do total embarcado no mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.
O analista da S&P Global ressaltou que os meses de maiores exportações de milho do Brasil para a UE costumam ser julho e agosto, mas comentou que o problema climático na Europa poderia dar suporte adicional aos negócios.
"O ponto adicional é a seca histórica e as ondas de calor que estão afetando a produção de milho na Europa, reduzindo as estimativas, temos as lavouras nas piores condições na França pelo menos dos últimos sete anos", disse. "Com certeza estamos esperando importações mais fortes pela Europa até por causa disso também."
Entre os principais importadores do bloco estão Espanha, Holanda, Portugal e Itália.
O Brasil vem sendo o segundo maior fornecedor de milho para a União Europeia, atrás apenas da Ucrânia, que normalmente ganha protagonismo a partir de novembro como exportador aos europeus, até os primeiros meses do ano seguinte, lembrou o analista.
"Toda vez que ocorre quebra de safra no Leste Europeu, por conta do clima, a UE acaba se socorrendo com milho brasileiro", exemplificou o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes.
O serviço de monitoramento de safras da União Europeia, MARS, cortou nesta segunda-feira suas previsões de safra de verão novamente, dizendo que as chuvas em muitas partes do bloco não foram suficientes para reverter os danos causados pelo clima seco e quente no início da temporada.
O MARS colocou sua perspectiva de rendimento para a safra de milho da União Europeia, que será colhida no outono no Hemisfério Norte, em 6,39 toneladas por hectare (t/ha), abaixo dos 6,63 t/ha projetados no mês passado e agora 19% abaixo do nível de 2021 e da média de cinco anos.
FATOR UCRÂNIA
Faleiros, da S&P Global, disse que os comentários do presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre embarques de milho ucraniano pelo corredor acordado com a ONU também ressaltam preocupações se a Ucrânia vai conseguir manter embarques à UE.
Putin criticou o fato de as exportações estarem servindo países ricos, incluindo europeus, não aqueles em desenvolvimento ou nações mais pobres, da África.
"Sabemos que esse acordo com a Rússia se mantém em risco, o Putin já sinalizou certo descontentamento... me parece que há incertezas sobre a continuidade do acordo".
Já o presidente da trading Agribrasil, Frederico Humberg, avalia que, na medida em que haja uma "regularização" dos embarques da Ucrânia à UE, a importância do Brasil como exportador ao bloco deve diminuir.
"No fundo, o grande efeito do aumento das exportações do milho do Brasil para a comunidade europeia foi devido a restrições à Ucrânia, que era o grande abastecedor, isso abriu janela de oportunidades ao Brasil", comentou Humberg.
(Por Roberto Samora)