Investing.com – Com taxas de juros mais elevadas e valuation dos ativos sofrendo, investidores esperam um retorno maior para operações, em meio ao custo de oportunidade. Empresas de maior robustez são mais visadas, diante dos riscos envolvidos, mas estruturações de empresas também abrem possibilidades vantajosas.
Especialistas consultados pelo Investing.com Brasil indicam que o cenário macroeconômico tende a ser um vento contrário para fusões e aquisições, mas ainda mais para aberturas de capital, que devem continuar enfrentando um período de seca.
Enquanto o início do ano passado indicava que companhias poderiam aproveitar o momento para abrir capital na B3 (BVMF:B3SA3) em meio à demanda reprimida, em 2025, a retomada deve continuar adiada. O cenário é negativo desde o boom de 2021, quando foram registradas 46 operações do tipo na bolsa local.
M&As em um cenário mais pessimista
O mercado de fusões e aquisições pode sofrer pressões no ano que vem, de acordo com os especialistas consultados, no entanto, sucessões e reestruturações abrem algumas oportunidades.
Denis Morante, sócio fundador da Fortezza Partners, que presta assessoria em fusões e aquisições, explica que para os M&As, não haverá um “radicalismo” no próximo. O especialista entende não haver chances de o número de M&As ficar abaixo de 1.000 transações, barreira quebrada em 2019, mas ele alerta para a chance de o total começar a flertar com este patamar por conta do cenário macro.
“No ano passado, foi algo como 1.500 transações, a gente acompanha um determinado banco de dados, que é principalmente o da KPMG. Pelos acompanhamentos que a gente tem feito desse mesmo banco, está em um certo empate. E eu acredito que vai acabar o ano mais com cara de empatado, se tiver uma mudança, talvez uma leve queda”.
Para o próximo ano, o especialista da Fortezza Partners entende que não deve ser possível segurar o ritmo dos últimos meses, diante dos juros mais elevados e impactos na atividade econômica e endividamento das empresas, o que atrapalha esse tipo de transação.
“Então isso vai ser um grande, vai ser um atrapalhômetro, vamos chamar assim, no horizonte dos empresários e das empresas. Além do fato de que você não vai ter esse recurso vindo através de aberturas de capital, que seria um motor para transações”, completa.
Ainda assim, as transações não vão ser totalmente afetadas, em seu entendimento, mas motivadas por outros fatores, como pressões sucessórias, ainda que com um cenário levemente mais pessimista para 2025.
Entre os setores que podem motivar M&As, estão principalmente tecnologia, serviços financeiros, que costumam ser destaque, ou possíveis surpresas em áreas como agronegócio e energia.
O mercado enxerga a taxa de juros indo na direção de quase 15% em 2025, com economistas precificando 14,75% no último Boletim Focus do Banco Central. Neste contexto, a perspectiva é de que empresas aproveitem as dificuldades financeiras de concorrentes para realizar operações de fusão e aquisição, enquanto reestruturações também devem ser impulsionadas.
A FZF Capital, boutique de M&A especializada em tecnologia, avalia que o setor vem demonstrando resiliência em relação a outros, mesmo em período de adversidades.
“Tecnologia, historicamente, quando a gente pega os últimos dez anos, representou, em número de transações, 40% do total”, destaca Kauê Pires, sócio da FZF Capital, ponderando para quedas relevantes do número de transações em períodos de ressaca, seja uma bolha ou crise financeira.
“O investidor, o vendedor da empresa de tecnologia, lá atrás, em 2021, ele viu o amigo dele sendo vendido a preços exorbitantes. E aí, quando foi a vez dele de vender, ele se sentiu aquele cara que chegou na maior festa que já aconteceu, e ele chegou por último e já estava tudo apagado”, compara, indicando que as transações passam a ser percebidas de forma mais minuciosa, mais fundamentalista, e compradores miram em empresas mais sólidas e com boa rentabilidade.
Considerando os primeiros 8 meses do ano, Pires aponta um total de 9 transações por mês no setor. Ainda que os dados não estejam fechados, 2024 já teria sido um ano melhor do que 2023 para as transações. Na companhia, o volume captado por empresas subiu 35% neste ano, com maior ticket por investimento.
IPOs – seca deve continuar
A percepção de analistas é de que a abertura de capital na bolsa de valores (IPO, na sigla em inglês) deve continuar no período de seca, diante de um cenário macroeconômico mais difícil, com juros elevados.
No IPO, “você precisa de um mercado muito otimista para fazer o dinheiro mudar de lugar”, entende Morante. “Essa parte de abertura de capital não vai acontecer mais nada mesmo. A gente já sabe e a tendência para o ano que vem é também zero. Então vai aniversariar três anos sem operações do tipo no começo de 2025”, espera o especialista.
José Luiz Duarte, sócio da FZF Capital, conta que tem conversado com executivos e o entendimento geral é de que 2025 não seria de uma janela de IPOs.
“Ou seja, ninguém está se preparando para fazer, mesmo já tendo passado no prazo de grandes empresas que podem ser consideradas unicórnios, que não abriram capital ainda. Nenhuma delas tem planejamento de abrir capital e o que eles têm dividido com a gente é que, dado que eles precisam construir uma tese para quando a janela abrir, e aí eles têm falado em 2026 e em diante, eles precisam, em 2025, fazer aquisições que corroborem isso, seja aumentar, receita seja melhorar a margem”, concluiu.
O momento, de acordo com os especialistas, seria de preparação para que as empresas estejam com robustez para quando a janela abrir - mas o próximo ano não traz nenhum otimismo para tal.