Alckmin teve conversa longa com Lutnick e governo não está fixado em prazo de tarifa, diz Haddad
O que era uma ameaça de guerra tarifária global se transformou em um dos maiores acordos comerciais da década. Neste fim de semana, os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram um pacto que estabelece uma tarifa de 15% para a maioria dos produtos europeus, evitando a escalada para tarifas de 30% a 50%, que poderiam entrar em vigor já em agosto.
Embora pareça um movimento bilateral, esse acordo carrega implicações profundas para o comércio global, e especialmente para países exportadores como o Brasil.
O que ficou definido no acordo EUA-UE?
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Tarifa de 15% para a maioria dos bens europeus exportados para os EUA.
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Aço e alumínio seguirão com tarifa de 50% — um recado claro de proteção à indústria americana.
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Produtos estratégicos como semicondutores, químicos, aviões e alimentos receberam condições mais brandas ou isenções.
Em troca, a União Europeia se comprometeu a:
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Comprar US$ 750 bilhões em energia americana
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Investir US$ 600 bilhões em equipamentos militares e tecnologia dos EUA
Por que o Brasil deve se preocupar?
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Perda de competitividade para o mercado europeu
Com tarifas agora previsíveis, os produtos europeus se tornam mais atraentes e confiáveis para o mercado americano. Exportadores brasileiros, especialmente em áreas como vinhos, cosméticos, peças industriais e produtos agrícolas, enfrentam agora concorrência favorecida por acordos comerciais. -
Risco de desvio de investimentos e contratos
Parte dos investimentos e contratos bilionários que poderiam ter como destino países da América Latina, especialmente energia e infraestrutura, serão canalizados para a Europa, por força do acordo. -
Isolamento estratégico do Brasil
Enquanto Europa e EUA fecham alianças, e México e Canadá mantêm o USMCA (ex-NAFTA), o Brasil segue sem acordos sólidos com os EUA e com dificuldades de avançar com o Mercosul. O cenário reforça a necessidade urgente de reposicionamento estratégico no comércio internacional.
Setores sob pressão:
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Aço e alumínio brasileiros continuarão prejudicados, pois enfrentam as mesmas tarifas elevadas que os europeus, mas sem o benefício da previsibilidade ou isenções.
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Produtos agrícolas, como carnes e grãos, também podem ver preferência por fornecedores europeus, que terão contratos amparados por cláusulas comerciais estáveis.
O que o Brasil pode (e deve) fazer agora?
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Reforçar acordos bilaterais e regionais: é hora de tirar da gaveta negociações comerciais com EUA, Canadá, Ásia e outros blocos.
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Ofensiva diplomática e comercial: empresas e governo devem estar mais presentes em fóruns internacionais e lobbies comerciais.
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Apoiar inovação e agregar valor à exportação: o Brasil ainda exporta muita commodity bruta. É preciso subir na cadeia de valor para competir com Europa e EUA.
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Ampliar previsibilidade e segurança jurídica: investidores olham para estabilidade. O novo acordo reforça que o jogo global será entre blocos organizados e protegidos.
Este novo acordo entre EUA e União Europeia muda o jogo. Não apenas porque evita uma guerra comercial,mas porque redefine alianças, preferências e fluxos de capital global.
O Brasil, se quiser continuar relevante no comércio internacional, precisa agir com visão, estratégia e urgência. A neutralidade já não é uma opção. O mundo está se reorganizando, e quem ficar de fora pagará caro.