Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A escala de navios para carregar soja nos portos brasileiros cresceu cerca de 15 por cento em pouco mais de uma semana e a fila de embarcações esperando para atracar é maior do que um ano atrás, por reflexo da recente greve de caminhoneiros e de um aumento da competitividade do grão nacional com a forte alta do dólar.
A atual escala prevê o carregamento futuro de 141 navios com 8,49 milhões de toneladas de soja, com alguns agendamentos já confirmados inclusive para o final de abril, segundo dados da agência marítima Williams analisados pela Reuters.
Na semana passada, a escala futura previa 123 navios com 7,62 milhões de toneladas. Um ano atrás, eram 122 navios escalados, para 7,28 milhões de toneladas.
O primeiro semestre é habitualmente o momento de pico das exportações de soja da América do Sul, por ser momento de colheita no Brasil e na Argentina e de entressafra nos Estados Unidos, mas há indicativos de procura maior este ano.
Segundo analistas, um dos principais motivos de atração de compradores para o Brasil neste momento são os preços mais competitivos em função da desvalorização do real frente o dólar.
"Lógico que tem a safra no Brasil, mas o deslocamento da demanda mundial foi mais do que potencializado pela questão cambial", disse o analista Aedson Pereira, analista de grãos da Informa Economics FNP.
O indicador Cepea/Esalq que registra os negócios com soja no porto de Paranaguá (PR) aponta que os preços em dólares acumulam perdas de 33 por cento nos últimos 12 meses, um desconto de 10 dólares por saca, favorecendo os importadores, principalmente os asiáticos.
Por outro lado, as perdas em reais foram de 7 por cento no período --devido ao câmbio--, garantindo, de alguma forma, o patamar de renda dos produtores rurais.
O dólar acumula alta de cerca de 37 por cento desde meados de março de 2014.
"Com esse dólar alto, o line up começou a subir mesmo. Tem uma correlação bem forte aí... A conta de exportação melhora", destacou o consultor Giovani Damiano, da INTL FCStone.
ATRASOS
Outros fatores que provocam acúmulo de navios nos portos foram o cronograma da safra 2014/15 no Brasil e as recentes paralisações de caminhoneiros.
A colheita começou mais lenta em 2015 na comparação com 2014 devido a atrasos no plantio em algumas regiões que sofreram com falta de chuvas no início da temporada.
Além do mais, o final do mês de fevereiro, que marca o início da colheita e do escoamento da soja, foi marcado por paralisações de caminhoneiros no Centro-Oeste e no Sul do país por vários dias.
Tudo isso ajudou a frear as exportações de soja em fevereiro, que totalizaram cerca de 870 mil toneladas, contra 2,79 milhões no mesmo mês de 2014, ano em que a colheita começou bastante antecipada.
"Atrasou muito a programação. Muitas tradings, de olho na incerteza com o fim da greve, acabaram reprogramando seu escoamento", afirmou Pereira, da FNP.
O número de navios ancorados nas regiões do portos brasileiros, aguardando para carregar, já chega a 101, ante 51 embarcações no final de fevereiro. Em 18 de março de 2014 havia 96 navios para soja ancorados aguardando.