SÃO PAULO (Reuters) - Apesar da elevação nos preços teto, o leilão de energia A-3 deste ano, que contratará usinas para início de fornecimento em 2018, ainda é desafiador e favorece empresas consolidadas no setor, principalmente devido ao financiamento mais caro e escasso e desvalorização na taxa de câmbio, apontam especialistas ouvidos pela Reuters.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou nesta terça-feira preço teto de 218 reais por megawatt-hora (MWh) para térmicas a gás e biomassa, 64 por cento acima do praticado em 2014. Para as eólicas, o teto saltou 38 por cento, de 133 reais por MWh para 184 reais por MWh. Já pequenas hidrelétricas (PCHs) terão preço 45 por cento superior, de 216 reais por MWh.
"As condições de financiamento pioraram demais, demais mesmo. A viabilidade de preço vai passar muito por essa questão", disse o diretor da consultoria PSR Luiz Barroso, citando tanto os empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quanto das instituições privadas.
"Em geral, o setor esperava preços maiores", resumiu a diretora da Thymos Energia, Thaís Prandini, lembrando dos desafios econômicos.
"A economia piorou, os projetos ficaram mais caros, não tem jeito. Antes o BNDES financiava mais. Outro ponto é (o aumento) da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP)... e (a valorização do) dólar, que impactou bastante a previsão de investimento."
O consultor Silvio Areco, da Andrade & Canellas, disse que embora o aumento dos preços teto seja "uma sinalização importante", os empreendedores estão mais apreensivos e o governo já não está em uma situação privilegiada para contratar energia como em certames anteriores.
"Você precisa neste momento começar a constituir uma realidade aderente a essa situação atual do país. Muita coisa mudou do ano passado pra cá... deve dar jogo, mas não é nada que vá bombar", afirmou Areco.
COMPETIÇÃO ENTRE AS FONTES
Os analistas acreditam que, apesar da piora nas condições, ainda há espaço para competição, principalmente para os parques eólicos, que têm sido a fonte mais barata nas últimas licitações.
Nesse cenário, a PSR, aposta que o favoritismo é das grandes empresas, que têm acesso a recursos, projetos já implantados e grande conhecimento técnico.
"O diferencial para ganhar um leilão hoje é sinergia, financiamento e habilidade na compra do equipamento", apontou Barroso.
Ainda assim, ele disse que algumas holdings de peso podem preferir outros meios de viabilizar seus projetos, no mercado livre de energia elétrica, onde é possível vender a energia por preços melhores.
Nas demais fontes (pequenas hidrelétrica, biomassa e gás), o otimismo é menor.
Enquanto a PSR vê como baixo o preço para as termelétricas, a Thymos dá como certo que o valor inviabiliza novas usinas a gás natural.
"Não existe possibilidade nenhuma... foi (uma oportunidade de contratar empreendimentos a gás) jogada fora, não tem jeito", disse Thais.
Já pequenas hidrelétricas e usinas a biomassa devem também fechar contratos, mas com participação marginal, uma vez que são empreendimentos mais caros e que têm tido presença menor nos leilões, segundo os especialistas.
(Por Luciano Costa)