Por Anne Kauranen e Jonathan Landay
HELSINQUE/KHARKIV, Ucrânia (Reuters) - A Finlândia afirmou nesta quinta-feira que entrará com um pedido para ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) "sem demora", e a Suécia deve fazer o mesmo, com a invasão da Rússia à Ucrânia aparentemente motivando a própria expansão da aliança militar ocidental que o presidente russo, Vladimir Putin, tentou evitar.
A decisão dos dois países nórdicos de abandonar a neutralidade que mantiveram durante a Guerra Fria seria uma das maiores mudanças na segurança da Europa em décadas. Moscou considerou o anúncio da Finlândia uma ameaça direta à Rússia e ameaçou retaliação, incluindo medidas "militares-técnicas" não especificadas.
O anúncio foi feito mesmo no momento em que a guerra da Rússia na Ucrânia sofreu mais um grande retrocesso, com as forças ucranianas retirando tropas russas da região em torno da segunda maior cidade do país, Kharkiv, o avanço mais rápido da Ucrânia desde que ela forçou a Rússia a se afastar da capital e da região nordeste mais de um mês atrás.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que os finlandeses seriam "calorosamente bem recebidos" e prometeu um processo de acesso "suave e veloz". O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que apoia completamente a decisão da Finlândia de entrar na aliança.
A fronteira de 1.300 kms da Finlândia mais do que dobrará o comprimento da fronteira entre a aliança liderada pelos EUA e a Rússia, colocando tropas da Otan a algumas horas de carro da periferia norte de São Petersburgo.
"A Finlândia precisa entrar com pedido para se juntar à Otan sem demora", disseram o presidente finlandês, Sauli Niinisto, e a primeira-ministra do país, Sanna Marin, em um comunicado conjunto, esperando que os passos necessários para tomar a decisão sejam tomados "rapidamente nos próximos dias".
Questionado se a entrada da Finlândia seria uma ameaça direta à Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: "Definitivamente. A expansão da Otan não torna nosso continente mais estável e seguro."
"Isso não pode deixar de despertar nosso lamento e é um motivo para respostas correspondentes e simétricas do nosso lado", acrescentou Peskov.
"OLHEM NO ESPELHO"
Questionado na quarta-feira se a Finlândia provocaria a Rússia ao entrar na Otan, Niinisto disse: "Minha resposta seria que vocês causaram isso. Olhem no espelho".
Cinco diplomatas e autoridades disseram à Reuters que aliados da Otan esperam que os dois países se tornem membros rapidamente, abrindo caminho para mais presença de tropas na região nórdica para defendê-los durante o período de um ano de ratificação.
A Otan se descreve como uma aliança defensiva, construída em torno de um tratado que declara que um ataque a um dos membros é um ataque contra todos, garantindo aos aliados dos EUA proteção do poderio da superpotência de Washington, incluindo seu arsenal nuclear.
Moscou considera isso uma ameaça à sua segurança. Mas a decisão de Putin da invadir a Ucrânia mudou a opinião pública nórdica, com partidos políticos que durante muito tempo defenderam a neutralidade agora se alinhando com a visão de que a Rússia é uma ameaça.
A Finlândia especialmente tem séculos de história tensa sob a sombra da Rússia. Governada pelo Império Russo entre 1808 e 1917, lutou contra invasões soviéticas na véspera da Segunda Guerra Mundial e aceitou alguma influência soviética como o preço por evitar tomar um lado durante a Guerra Fria. Desde que a Finlândia e a Suécia entraram na União Europeia, em 1995, elas têm se alinhado mais firmemente com o Ocidente.
(Reportagem de redações da Reuters)