SÃO PAULO (Reuters) - A CPFL Energias Renováveis avalia que o déficit de geração das hidrelétricas do Brasil pode dobrar este ano, diante de um cenário de reservatórios ainda incerto e expectativa de consumo menor de eletricidade pelo país.
A companhia, que divulgou nesta terça-feira prejuízo de 65,2 milhões de reais para o quarto trimestre, avalia que o déficit das hidrelétricas, apurado pelo indicador conhecido como GSF, será de entre 12 e 16 por cento ante 8 por cento em 2014, afirmou o presidente da empresa, Andre Dorf.
"Este ano, tudo indica que o GSF vai ser mais alto (...) Se a demanda (por energia) for menor este ano, o ONS (Operador Nacional do Sistema) vai despachar menos geração hídrica", afirmou o executivo, referindo-se à estratégia do órgão regulador para poupar represas de hidrelétricas.
Segundo ele, o GSF foi um dos principais componentes negativos para o resultado da empresa, uma vez que a hidrologia impactou o balanço em 138 milhões de reais.
Na semana passada, o diretor geral do ONS, Hermes Chipp, afirmou que a previsão de carga de energia movimentada pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) pode sofrer uma revisão para alta de apenas 0,2 por cento este ano ante estimativa atual de crescimento de 3,2 por cento.
As geradoras hidrelétricas vão precisar comprar energia que vão deixar de produzir no mercado para honrar contratos firmados, o que deverá causar "um impacto grande" nas contas do setor, disse Dorf.
O impacto será grande mesmo com o teto do preço da eletricidade no mercado de curto prazo ter sido reduzido este ano para cerca de 389 reais por megawatt/hora ante cerca de 823 reais em 2014, afirmou o executivo.
Cálculos do mercado de energia apontam para um déficit de geração que deverá impactar as geradoras hidrelétricas do país em entre 20 bilhões e 30 bilhões de reais em 2015. O setor tem mantido negociações com o governo federal para alterar o mecanismo diante da mudança das premissas do mercado de geração.
Na véspera, o presidente da estatal paranaense Copel, Luiz Fernando Vianna, afirmou que nos próximos 60 dias o governo federal deverá apresentar uma solução para minimizar o déficit nas contas do setor.
Segundo Dorf, a mudança do mecanismo é necessária diante de alterações do mercado ocorridas nos últimos anos.
"Os riscos hoje e o ambiente de mercado estão muito diferentes em relação aos contratos de anos atrás. O ambiente era diferente, não tinha tantas térmicas, outras energias renováveis, não tinha mercado livre e a regra do GSF ficou a mesma. Tem que sentar e discutir isso com os reguladores", afirmou o presidente da CPFL Energias Renováveis.
Segundo ele, ainda é cedo para dizer se o país vai precisar passar por um racionamento de energia em 2015 e é preciso esperar até o fim de abril, final do tradicional período chuvoso no país, para que haja uma ideia mais clara sobre o nível dos reservatórios das hidrelétricas durante a temporada de estiagem.
"Choveu muito bem nas últimas três semanas de março, mas janeiro e fevereiro choveu abaixo da média e (os reservatórios) já vinham carregando níveis bem abaixo do histórico", disse Dorf. "Temos que torcer para que esse nível de chuva das últimas semanas se mantenha até o final de abril", acrescentou.
O ambiente mais desafiador, porém, tem criado um cenário para aquisições favorecido por valorização do dólar contra o real, que encarece investimentos das geradoras, e elevação de juros.
A CPFL Renováveis encerrou 2014 com caixa de cerca de 1,1 bilhão de reais e permanece atenta a oportunidades de compra de ativos de geração, embora não esteja em negociações "adiantadas com ninguém", disse Dorf. A empresa anunciou em 2014 a compra das geradoras Desa e Rosa dos Ventos.
O executivo comentou ainda a companhia deverá participar dos leilões de energia renovável deste ano, analisando eólicas e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), bem como projetos solares.
Segundo Dorf, a perspectiva é que os preços-teto dos leilões sejam mais altos este ano por causa do impacto da elevação do dólar e dos juros. Porém, ele afirmou que a competição deverá ser "mais selecionada" uma vez que está mais difícil para se obter recursos para viabilizar os projetos.
(Por Alberto Alerigi Jr., edição de Luciana Bruno)