Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - É desnecessária uma medida para importação de arroz pelo governo brasileiro para supostamente evitar impactados na inflação devido às enchentes no Rio Grande do Sul, disse o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz), citando que apesar das inundações os gaúchos ainda produzirão mais do que no ano passado.
"Sem motivo, a medida não é necessária... Não tem nenhuma razão para o governo fazer isso, trazendo novamente um desestímulo se os preços caírem", disse Alexandre Velho, em entrevista por telefone.
Ele acrescentou que eventuais importações de arroz pela estatal Conab, conforme anunciou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro na véspera, vão pressionar preços, desestimulando produtores gaúchos na próxima safra.
O Rio Grande do Sul, que normalmente responde por 70% da produção nacional de arroz, ainda vai colher 7,2 milhões de toneladas do produto 2023/24, acima do volume da safra passada, de 6,9 milhões de toneladas, disse Velho. Isso apesar de perdas pelas enchentes, segundo a Fedearroz.
De acordo com o presidente da entidade, as perdas na safra de arroz do Rio Grande do Sul em função das enchentes são estimadas em cerca de 250 mil toneladas.
Isso porque o Estado já tinha colhido 83% da área de arroz e produtores ainda podem colher das lavouras que não foram destruídas pelas enchentes.
O total colhido antes das cheias já garantiu ao Estado uma produção de 6,5 milhões de toneladas, uma vez que as produtividades foram maiores na safra atual, assim como a área plantada cresceu.
"Temos seis regiões arrozeiras no Rio Grande do Sul. A mais atingida pelas enchentes é a região central, lá temos um problema bem pior, a região planta em beira de rio, então lá tem situação bem complicada, talvez a metade da área que falta na região central não dará pra colher", afirmou ele.
Além de lavouras, as enchentes atingiram silos em algumas regiões, segundo relatos do setor.
"Claro, tem alguns produtores que não vão colher nada, mas no geral temos tranquilidade em relação ao abastecimento."
Velho disse ainda que a entidade não foi consultada pelo governo sobre necessidade de importações pela Conab.
Sobre a fala do ministro Fávaro de que o Brasil importaria preferencialmente do Paraguai, Velho afirmou que o país vizinho produz em torno de 1 milhão de toneladas e já vendeu mais da metade da safra, atendendo a diversos mercados, inclusive o Brasil.
"Como vai comprar 1 milhão de toneladas de arroz do Paraguai?"
Segundo o dirigente, a perda de arroz pelas enchentes no Rio Grande do Sul será compensada pelo total que o Brasil deixará de exportar, já que o mercado interno tem um preço mais vantajoso do que no exterior.
(Por Roberto Samora)