SÃO PAULO (Reuters) - As vendas antecipadas da safra 2015/16 de soja no Brasil avançaram pouco ao longo de dezembro, com produtores rurais evitando um comprometimento maior com negócios em meio às incertezas climáticas, disse nesta segunda-feira o consultor Flávio França Junior.
A comercialização de soja avançou dois pontos percentuais entre 4 de dezembro e 8 de janeiro, quando atingiu 47 por cento do volume total esperado para a temporada.
"É principalmente pela questão da safra. Primeiro, porque já vendeu bastante e, segundo, porque (o produtor) não sabe se vai colher direito", disse França Junior à Reuters.
Muitos produtores, principalmente do Centro-Oeste, começaram a questionar a produtividade de suas lavouras e a capacidade que teriam de entregar grandes volumes de soja neste ano, após um plantio atrapalhado por falta de chuvas e um início de desenvolvimento das plantas prejudicado por precipitações irregulares em novembro e dezembro.
Ainda em dezembro, o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) reduziu sua estimativa para a safra de Mato Grosso para 28,03 milhões de toneladas, uma queda de 3,6 por cento ante a estimativa de agosto, com uma redução na produtividade de quase 2 sacas de soja por hectare. Se confirmada, será a primeira queda anual na colheita em uma década, segundo dados do instituto e do governo federal.
Segundo França Junior, "que os preços também não ajudaram" a realização de muitos negócios em dezembro.
Segundo dados do Cepea, os preços ao produtor em Sorriso (MT), por exemplo, ficaram praticamente estáveis em dezembro, abaixo de 60 reais por saca. Passaram longe do pico de 65,67 reais por saca registrado em setembro.
Elevadas cotações do dólar ao longo de 2015 estimularam o fechamento de negócios.
O índice de 47 por cento de negócios antecipados é o maior para essa época do ano desde o início de janeiro de 2013, referente às vendas da safra 2012/13, segundo França Junior. Também está bem acima da média dos último 5 anos, de 39 por cento.
As regiões com maior volume de vendas já realizadas são Piauí (80 por cento da safra) e Tocantins (77 por cento).
Em Mato Grosso, principal Estado produtor, as vendas já alcançam 58 por cento da safra. No Paraná --que tradicionalmente vende menos antecipadamente-- o índice é de 35 por cento, sem nenhum avanço ante o início de dezembro.
França Junior estima a safra brasileira em 97,91 milhões de toneladas.
Uma pesquisa da Reuters com projeções de 17 analistas e fontes do setor, muitas bastante divergentes, apontou na sexta-feira uma estimativa média de 100,5 milhões de toneladas de soja na safra 2015/16 no país.
(Por Gustavo Bonato)