Investing.com - Após um cenário de crise no conflito com a Ucrânia, que não dá sinais de término, a Rússia se encontra no centro das atenções dos noticiários. No fim de semana, o país esteve diante de um motim organizado pelo comandante de uma das milícias mercenárias atuante na guerra com o país vizinho, que era considerado como um apoiador próximo do presidente Vladimir Putin.
A revolta de Yevgeny Prigozhin, lider do Grupo Wagner, contra o Estado russo explodiu e recuou no espaço de 24 horas, mas investidores se perguntam nesta segunda-feira (26) se as consequências de seu motim de curta duração podem reverberar por muito mais tempo, inclusive nos mercados de commodities e ações de forma global.
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o episódio não fez preço nos mercados, mas expôs uma fragilidade interna que pode sinalizar um alerta para um país que está em confronto direto neste momento.
"O grupo estava há 14 horas de Moscou e por isso parecia um pouco improvável [de acontecer]. Agora, mostra uma fragilidade interna, que em um momento de guerra é bem perigoso, para a Rússia principalmente. Talvez tenha sido mais um recado para o Putin", diz Alves.
A Rússia é uma importante fornecedora de commodities. O país é o segundo maior exportador de petróleo do mundo, atrás da Arábia Saudita. E também o maior exportadora de trigo, com Rostov - região epicentro da revolta - em segundo lugar entre as suas regiões produtoras, e lar dos portos do rio Don, que ligam navios exportadores de grãos com o Mar de Azov.
Além disso, vários oleodutos de petróleo e gás passam pela região de Rostov. Um desses oleodutos, o Kuibyshev-Tikhoretsk, pode fornecer 0,8 milhão de barris por dia ao porto de Novorossiisk, na região de Krasnodar, o maior porto de exportação de petróleo da Rússia no Mar Negro.
Caso houvesse uma escalada, as commodities energéticas seriam o primeiro a sentir o impacto. "Para o setor de aviação, por exemplo, seria ruim, pois impactaria diretamente no preço da querosene e algumas empresas de materiais básicos - como fertilizantes e siderurgia", completa o analista.
Para Luan Alves, analista-chefe da VG Research, o cenário é de cautela. "Esse evento é importante e tem espaço pra impactar o mercado de commodities, o efeito ainda é inicial mas todos os investidores estão monitorando o desdobrar.Pode gerar pressões inflacionárias que seriam incômodas nesse momento do ciclo econômico das principais economias", explica.
Os preços do petróleo operavam em alta nesta segunda-feira, 26, com o mercado avaliando sobre a ameaça da oferta de petróleo de um dos maiores produtores da commodity do mundo. Por volta das 16h06 de Brasília, o petróleo WTI, negociado em Nova York, subia 0,56%, a US$ 69,55 por barril, enquanto o petróleo Brent, referência mundial de preço cotado em Londres, se valorizava 0,66%, a US$ 74,50.
Fabrício Gonçalvez CEO da Box Asset Management, acredita que a fragilidade pode impactar na influência da Rússia, movimentando os mercados. "A instabilidade, já causada com a guerra na Ucrânia e o motim recente jogam gasolina na fogueira da volatilidade nos preços dessas commodities e os efeitos disso sabemos que não são os melhores.", reforça.
"O episódio passou sem muito reflexo no mercado, principalmente no petróleo. Eu diria que, se tivesse uma alta no preço, a gente tem até uma margem para essa alta, mas teria que subir muito para vermos o impacto", reforçou o estrategista-chefe da Avenue.
Com informações da Reuters