SÃO PAULO (Reuters) - A interrupção precoce do 79º leilão de biodiesel, realizada pela reguladora ANP nesta semana a pedido do Ministério de Minas e Energia, impediu que os preços do biocombustível caíssem com o desenvolvimento do certame, afirmou nesta quinta-feira a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Sobre a continuidade do leilão, a associação que representa as principais tradings e processadoras de soja do Brasil disse que aguarda definições do governo.
Há rumores que o governo discutiu com o setor reduzir a mistura para dar continuidade ao leilão. O Ministério de Minas e Energia, a ANP e a Abiove não comentaram este assunto.
No momento de suspensão do leilão, na terça-feira, os preços do biocombustível já apontavam para 7,5 reais por litro, quase 3 vezes o valor do diesel fóssil nas refinarias da Petrobras (SA:PETR4), informou à Reuters a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).
Segundo a Abiove, o leilão foi "precocemente interrompido" quando havia capacidade para entrega de biodiesel para atender uma mistura superior a 14%, ou seja, maior do que os 13% do "blend" atual de biodiesel no diesel.
De acordo com a associação, a interrupção do leilão aconteceu na etapa de compras de pequenas usinas, denominada 3A, que representa somente entre 5% e 10%, respectivos mínimo e máximo definido na legislação, do total que as distribuidoras devem adquirir no leilão.
Terminada esta etapa 3A, cujos preços iniciais foram próximos aos dos Preços Máximos de Referência (PMR) estipulados pela ANP, disse a Abiove, o leilão seguiria normalmente para a aquisição dos 90% a 95% restantes. E haveria oferta de 1,37 bilhão e 1,44 bilhão de litros de biodiesel, volume muito superior à oferta das usinas pequenas.
"Ou seja, ao interromper o leilão precocemente, a ANP impediu que os deságios acontecessem, pois não permitiu que as empresas reapresentassem novos preços...", afirmou a Abiove em nota.
A pressão altista dos preços do diesel tem preocupado donos de postos de combustíveis, após o produto fóssil vendido pela Petrobras nas refinarias ter subido 36% no acumulado do ano.
Nesta quinta-feira, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) afirmou em nota que enviou ofício ao presidente Jair Bolsonaro, manifestando preocupação sobre possíveis impactos que o preço do biodiesel terá na formação dos custos do diesel, a partir de 1º de maio.
Também no início do próximo mês está previsto o retorno da cobrança de PIS/Cofins sobre o diesel, que foi suspensa temporariamente por Bolsonaro como forma de segurar os preços e acalmar protestos de caminhoneiros que ameaçavam realizar uma greve em fevereiro.
A Fecombustíveis teme que uma alta maior dos preços do diesel em maio seja um estopim para novos protestos.
"Estamos fazendo um alerta ao governo sobre as altas de preços do diesel que estão por vir, principalmente com o retorno da cobrança do PIS/Cofins do diesel. Os postos não podem ser responsabilizados por estes aumentos", disse o presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda.
(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Marta Nogueira)