Imbatíveis: juros brasileiros são duros na queda (Instagram/Muhammad Ali/Divulgação)
SÃO PAULO – Ostentar o nada lisonjeiro título de campeão mundial de juros reais rendeu, pelo menos, um alento para o Brasil. O UBS destaca o país entre as recomendações de investimentos para os próximos meses. Sua tese é que, diante das praticamente nulas taxas de retorno dos títulos de países desenvolvidos, o melhor é tomar coragem e assumir algum risco nos emergentes. E, entre eles, o Brasil merece lugar de destaque.
Baseado na taxa de juros local, o UBS calculou que o retorno real dos títulos brasileiros de 10 anos, já descontados a inflação e o CDS (Credit Default Swap) de 5 anos, é de 2,7% - o maior entre os 21 emergentes analisados. A atratividade do Brasil não é unânime em todos os quesitos. Em relação ao México, por exemplo, o Brasil perde em liquidez dos papéis (6º lugar no ranking, ante a vice-liderança mexicana), e em retorno nominal em relação aos títulos norte-americanos no acumulado desde 2010 (98% a 93%).
Em relatório desta quarta-feira (13), assinado pelos estrategistas Bhanu Baweja, Manik Narain e Maximillian Lin, esses cálculos mostram que títulos de países emergentes, remunerados pelas taxas locais de juros, são a escolha do momento. “Atualmente, México, Malásia e Polônia aparecem como os mercados locais mais atrativos em nosso ranking, seguidos muito de perto por Brasil e Israel”, afirma o banco.
Para calcular o potencial de cada título, o UBS primeiro ajustou o yield nominal dos títulos de 10 anos pela inflação ao consumidor. Por essa conta, na média, os emergentes oferecem um prêmio real de 2,5%, considerado “confortavelmente acima” das taxas sub-zero dos papéis de países desenvolvidos. Para ser mais rigoroso com o risco de crédito dos emergentes, o UBS ainda descontou o spread do CDS de 5 anos. O retorno ficou por volta de 1%, mas, mesmo assim, é melhor do que nada. “Os yields negativos no mundo desenvolvimento podem significar que mesmo esse prêmio é muito alto para ser ignorado”, afirma o banco.
Cruz e espada
O banco considera que os investidores, hoje, encontram-se em uma encruzilhada. Se optarem pelos títulos dos países desenvolvidos, considerados de risco zero (os chamados AAA), com certeza perderão dinheiro se os carregarem até o vencimento. Mas, se escolherem os emergentes, precisarão assumir o seu risco de crédito. Diante disso, o banco suíço indica que só há uma saída: escolher o menos pior.
“O risco de perder dinheiro com créditos fracos parece menos pior na comparação”, afirma. “Os modelos de valor justo sempre trabalham em tempo real, todos sabem, mas com metade do core global de yields deslizando para zero, só podemos lidar com isso, particularmente, com um significativo gancho de esquerda ou algum outro golpe não-linear”, completa o banco. Traduzindo: para evitar o caminho líquido e certo das perdas com papéis de países desenvolvidos, é melhor ser radical.