Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O diferencial de preços entre a soja no Brasil e a dos Estados Unidos atingiu na segunda-feira mais de 20 dólares por tonelada, o maior nível em nove meses, segundo dados da Refinitiv, indicando como o produto brasileiro ficou menos competitivo após a moeda norte-americana se enfraquecer em relação ao real.
Também colabora com o maior preço da soja brasileira o fato de os agricultores do Brasil, maior produtor e exportador global, já terem comercializado grande parte da safra da oleaginosa de 2019/20.
"O 'driver' é câmbio, o que tem maior peso... Mas já estamos no final de soja não fixada", explicou o especialista em Commodities da Refinitiv Anderson Nacaxe, ao comentar a perda de competitividade do produto nacional e o menor volume disponível para venda.
Produtores do Brasil já fecharam contratos para venda de cerca de 90% da soja colhida nos primeiros meses do ano, aproveitando fortemente quando a moeda norte-americana estava mais próxima dos 6 reais do que dos 5 reais, como acontece atualmente.
O dólar, que chegou a bater máxima de 5,9012 reais em 13 de maio, fechou no patamar de 5,23 reais nesta terça-feira.
Assim, a comercialização de soja teve ritmo recorde este ano, contando também com uma forte demanda da China e da Europa, notou Nacaxe, o que resultou em embarques recordes do Brasil.
O país deverá terminar o primeiro semestre com exportações de 60,5 milhões de toneladas de soja, estima a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), apontando alta de 34% na comparação com o total embarcado no mesmo período de 2019.
Ao todo, as exportações nacionais estão estimadas pelo governo em 77 milhões de toneladas em 2020.
Com embarques volumosos, ainda que o país tenha colhido a sua maior safra em 2020, superior a 120 milhões de toneladas, preços mais altos, normalmente vistos no pico da entressafra, foram antecipados neste ano.
"Veio mais cedo considerando o fluxo mais forte para China/ Europa, que esvaziou nossos estoques mais rapidamente", comentou o analista.
No acumulado do mês, o preço da soja no porto de Paranaguá subiu 6% até segunda-feira, para 372,50 dólares por tonelada, enquanto o produto na costa do Golfo dos EUA avançou 1,6% no mesmo período, para 351,60 dólares/tonelada.
A diferença entre a soja do Brasil e dos EUA só esteve maior que o patamar atual de 20 dólares por tonelada em 18 de setembro de 2019.
Em setembro, normalmente a oleaginosa já costuma estar muito mais escassa no mercado brasileiro, e a colheita norte-americana está próxima de começar, pressionando os preços.
Para Nacaxe, a soja brasileira ainda teria competitividade para compras chinesas até 10 dólares acima da dos EUA, uma vez que o produto nacional consegue realizar o trajeto até a China de forma mas rápida que o norte-americano.
"Em custo de combustível (de navio) o que pega mais é tempo de rota...", comentou.
Como sinal da maior competitividade dos EUA e também de uma menor disponibilidade do grão brasileiro, o Departamento de Agricultura norte-americano (USDA) tem reportado vários negócios para a China recentemente.
Contudo, muitos desses negócios dos EUA têm sido feitos para embarques entre setembro e janeiro, quando o Brasil terá ainda menos soja para embarcar.