ONGs internacionais são usadas para minar atuação no exterior do agronegócio do país, diz aliado de Bolsonaro

Publicado 29.10.2018, 12:37
© Reuters. Plantação de soja na Bahia

Por Ricardo Brito e Rodrigo Viga Gaier

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um dos principais apoiadores do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) na área do agronegócio, o deputado federal e senador eleito Luiz Carlos Heinze (PP-RS) afirmou que organismos internacionais com atuação no país na área ambiental criam barreiras para impedir o aumento da presença de produtos agrícolas brasileiros no mundo.

"Claro, sem sombra de dúvida (há intenções não confessadas). A questão trabalhista, a questão ambiental, a questão indígena, tudo é questão de que o Brasil será a maior nação agrícola do planeta. Então eu sou concorrente de quem? Dos Estados Unidos, da Europa, de qualquer país. Então o que você faz? Se você não me trava comercialmente, então você faz o quê? Bota a questão ambiental naquele trouxa lá e tchau para ti", disse Heinze, em entrevista exclusiva à Reuters no domingo, pouco antes de ser anunciada a vitória de Bolsonaro.

Para Heinze, esse é um novo mecanismo para minar a concorrência do Brasil no mercado mundial de commodities. Segundo ele, é mais fácil "pagar o Greenpeace para fazer um protesto aqui" ou "trancar um navio" do que ter de concorrer na disputa comercial. "Não é questão ambiental, é negócio", destacou. "Isso é guerra, negócio", completou.

O senador eleito disse que essa medida serve para retomar mercado. O nome de Heinze --que se reuniu duas vezes durante a disputa do segundo turno com Bolsonaro e assistiu à vitória dele dentro da casa do agora presidente eleito-- tem sido ventilado como um potencial ministro da Agricultura. Questionado, ele disse que ainda não teve qualquer conversa com ele sobre o assunto.

Em nota, logo após o anúncio de eleição de Bolsonaro, o Greenpeace defendeu a preservação do meio ambiente e afirmou que "reduzir o combate ao desmatamento faz com que o Brasil perca competitividade econômica, o que pode inclusive afetar a geração de empregos".

"Mercados internacionais e consumidores querem garantias de que o nosso produto agrícola não esteja manchado com a destruição florestal", afirmou Nilo D'Ávila, diretor de Campanhas do Greenpeace Brasil.

FISCALIZAÇÃO

Heinze fez duras críticas ao poder de fiscalização de áreas ambientais, que não existe em "nenhum lugar do mundo", segundo o senador eleito. Para ele, os próprios fiscais têm sido mais restritivos na aplicação de sanções do que o previsto em lei.

"A preservação que faz no Brasil isso não existe. A lei que nós temos aqui nenhum país tem. Agora vou ser mais restrito que a própria lei", afirmou ele, ao defender mudanças e criticar as cobranças dos organismos internacionais.

"Então por que não faz lá onde o Greenpeace, a WWF (tem sede). Por que não faz isso lá? Agora tem que fazer aqui. Essas exigências não tem razão de ser. Cumpra-se a lei. Todo mundo é bandido? Esquece. Temos de tirar, seja na questão trabalhista, na questão ambiental, essa ideia de que o empresário é bandido. Para com isso, nenhum país do mundo faz isso", afirmou.

© Reuters. Plantação de soja na Bahia

"Tem que ter uma regra, não a minha caneta. A minha caneta vale mais do que qualquer coisa. Esse país está atrasado, olha o desemprego, temos que olhar para a frente. Temos que fazer esse país andar, aqui tudo trava. Não pode ser assim, o Brasil com a carência que tem, com o problema que tem, no meu Estado e em qualquer lugar", completou.

O senador eleito não quis opinar sobre a possibilidade de fusão do Ministério da Agricultura e do Meio Ambiente, defendida originalmente por Bolsonaro.

"Não analisei isso, tem que olhar. O que não pode é fazer o que o Michel fez, juntar o ministério, separar ministério", disse, ao completar que que, se isso ocorrer, vai haver protestos. "Lógico que vai vir isso, essas coisas tem que avaliar. Isso na hora certa vai aparecer", afirmou.

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