BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff acusou nominalmente nesta terça-feira o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha e o vice-presidente da República, Michel Temer, de um “golpe moderno” e repetiu que a renúncia ao mandato “jamais passou" pela sua cabeça.
“Esse processo conduzido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e pelo vice-presidente Michel Temer é uma espécie de golpe moderno, um golpe feio, um golpe rasgando nossa Constituição”, discursou a presidente na abertura da 4ª Conferência Nacional das Políticas para as Mulheres.
No auditório da conferência, em Brasília, cerca de 3 mil pessoas esperavam a presidente para o que deve ter sido sua última fala pública antes da votação pelo plenário do Senado de seu afastamento do cargo. Sorridente, Dilma chegou apenas 10 minutos depois do horário marcado e foi recebida com tradicionais gritos de “Dilma Guerreira da Pátria Brasileira” e cantou o hino nacional à capela, com a plateia.
Uma vez mais, disse que jamais pensou em renunciar e garantiu que vai lutar com “todas as forças” por seu mandato. “Enquanto eu ficar de pé, de cabeça erguida, ficará claro que cometeram contra mim uma inominável injustiça”, disse. “Eu não estou cansada de lutar, estou cansada dos desleais e traidores. O Brasil também está cansado dos desleais e traidores, e esse cansaço que me impele a lutar cada dia mais.”
“Para mim, o último dia do meu mandato é o dia 31 de dezembro de 2018”, afirmou.
Apesar da declaração, o discurso teve um certo tom de despedida. Ao afirmar que continuará lutando, a presidente disse que vai participar de todos os “atos e ações” para os quais for chamada.
Antes de sair do evento, Dilma cumprimentou dezenas de mulheres que tentavam chegar perto, apesar das grades separando a plateia do palco. Fez ainda corações com as mãos para se despedir.
O Planalto estuda mais um evento, com estudantes, na quarta-feira, no próprio Palácio, enquanto o Senado vota o afastamento da presidente. No entanto, a decisão ainda não está tomada.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), marcou para quarta-feira a votação em plenário da admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente. As projeções atuais são de que cerca de 50 senadores devem votar pelo afastamento de Dilma, em um cenário em que é preciso apenas a maioria simples dos parlamentares presentes. Há, no total, 81 senadores.
Praticamente desde o momento em que o processo foi para o Senado o governo já dava essa etapa da briga por perdida, ao saber que teria com certeza apenas 21 votos favoráveis à presidente. Hoje, admite-se que, uma vez afastada, dificilmente a presidente conseguirá voltar ao cargo.
Dilma deve ser notificada do afastamento na manhã de quinta-feira.