Por Barani Krishnan
Investing.com -- O Presidente Joe Biden começa a ouvir dos Emirados Árabes Unidos (EAU) e do Iraque um pouco da "música" que deseja na produção de petróleo da Opep.
Mas, a oferta de mais barris também poderia se tornar condicional em algum momento, e cobrar um preço político que poderia torpedear o acordo nuclear das potências mundiais com o Irã, comprometendo a possibilidade de que um nível de produção ainda mais alto resfrie um mercado que cruza seus maiores patamares em 14 anos.
Os preços do petróleo registrarem quedas em marcas de dois dígitos na quarta-feira após o embaixador dos Emirados Árabes Unidos em Washington, Yousef Al Otaiba, ter dito num comunicado amplamente difundido junto aos meios de comunicação que o segundo maior produtor de energia no Golfo "é a favor de aumentos da produção de petróleo".
Os EAU "irão encorajar a OPEP a considerar níveis de produção mais elevados", disse Otaiba, referindo-se à Organização dos Países Exportadores de Petróleo, liderada pela Arábia Saudita, com 13 membros.
"Os EAU são fornecedores confiáveis e responsáveis de energia para os mercados globais há mais de 50 anos e acreditam que a estabilidade nos mercados energéticos é fundamental para a economia global", afirmou Otaiba.
Seus comentários foram acompanhados pelos do Ministro do Petróleo do Iraque, Ihsan Abdul-Jabbar Ismail, que disse que a OPEP+ irá se esforçar em alcançar o equilíbrio do mercado.
"Se a OPEP+ o exigir, podemos aumentar a produção", disse ele, afirmando que a aliança global de produtores de petróleo irá debater as decisões de fornecimento na sua próxima reunião, em abril.
O Brent, cotado em Londres e referência mundial de preço, apresentava queda de 14,03% a US$ 109,97 por barril às 16h11. A mínima do pregão foi de US$ 106,82.
O West Texas Intermediate, ou WTI, cotado em Nova York e referência de preços nos EUA, registrava baixa de 12,9% a US$ 107,78.
A OPEP vem aumentando a produção de petróleo em apenas 400.000 barris por dia a cada mês desde o ano passado, por meio do seu pacto com outros 10 produtores de petróleo guiados pela Rússia, na forma uma aliança combinada conhecida como OPEP+. A aliança continua a reter cerca de 5 milhões de barris de fornecimento regular devido a cortes de produção feitos durante a pandemia, iniciados em maio de 2020.
Na terça-feira, Biden anunciou uma proibição solitária dos EUA sobre as importações de petróleo russo, numa ação destinada a isolar ainda mais um país que, sozinho, proporciona 10% do abastecimento mundial.
Os analistas em geral enxergaram a proibição dos EUA como pouco mais que "barulho". O petróleo russo representou 3% do consumo dos EUA no ano passado.
Mas o impulso patrocinado pelos Emirados Árabes Unidos, bem como seu plano para instigar o mesmo da OPEP, poderia ser uma "mudança no jogo", disse John Kilduff, sócio do fundo de hedge energético Again Capital, com sede em Nova York.
"Esta é a música que Biden estava esperando ouvir da OPEP, mas ela poderá vir acompanhada em algum momento de um preço político que prejudicaria o acordo nuclear com o Irã", afirmou Kilduff.
Os Emirados Árabes Unidos, assim como a Arábia Saudita, são tecnicamente um aliado dos EUA que receberam recentemente apoio militar extra para auxiliá-los contra ameaças dos Houthi, aliados iranianos, vindas do Iêmen.
Mas os EAU também têm feito apelos aos Estados Unidos para que incluam a milícia apoiada pelo Irã na lista de Organizações Terroristas Estrangeiras, algo que a Casa Branca parece não estar disposta a fazer.
A exigência de que a Guarda Revolucionária Islâmica de Teerã permaneça fora da lista de terrorismo de Washington é um dos pontos que os negociadores iranianos impõem às negociações nucleares com as potências mundiais. As negociações, que se arrastaram por meses, estão em seus estágios finais, e podem abrir caminho para o retorno legítimo do petróleo iraniano ao mercado global de exportação, sem as sanções norte-americanas enfrentadas desde 2018.
Não se sabe se os EAU irão insistir na sua exigência de que a Guarda Revolucionária seja considerada como um grupo terrorista para realizar acréscimos significativos à sua oferta de petróleo.
Enquanto isso, a Arábia Saudita, líder de fato da OPEP e da OPEP+, permanece sem cooperar com os EUA e outros países consumidores de petróleo ao longo da guerra entre Rússia e Ucrânia.