Por Barani Krishnan
Investing.com -- É isto ou aquilo. Com o crescimento o debate sobre colocar ou não o pé na estrada numa altura em que a gasolina é vendida em torno de US$ 5 por galão, os touros do petróleo voltaram suas atenções para os voos de verão no hemisfério norte, já que as margens para o refino de combustível de aviação estão nas alturas com máximas históricas.
O petróleo WTI, negociado em Nova York e referência de preço nos EUA, fechou em alta de US$ 1,09 ou 1%, a US$ 110,65 por barril. Ele chegou a subir mais de 2% mais cedo no pregão, alcançando a máxima no dia de US$ 111,16.
O petróleo Brent, cotado em Londres e referência mundial da commodity, registrava avanço de US$ 0,15, a US$ 114,28, às 15:45h, depois do pico no pregão de US$ 116,24.
Os touros do petróleo estão tentando deixar para trás a pior liquidação em dois meses, que fez o WTI cair 9% e o Brent perder 8% na semana passada entre temores de uma recessão nos EUA, o que poderia abocanhar a demanda por petróleo.
"Independentemente da razão para a liquidação, os preços se recuperaram esta manhã, liderados por derivados, já que as margens de combustível de aviação e gasóleo estão em máximas históricas", disse Scott Shelton, corretor de futuros energéticos da ICAP em Durham, Carolina do Norte, por meio de e-mail para o Investing.com.
O analista Giovanni Staunovo, da UBS, defendeu um argumento semelhante, dizendo que apesar das preocupações com o crescimento econômico, os últimos dados sobre a atividade de voo e mobilidade nas estradas dos EUA continuam a indicar uma sólida demanda por petróleo.
"Esperamos que a procura por petróleo melhore ainda mais, beneficiando-se da reabertura da China, das viagens de verão no hemisfério norte e do tempo mais quente no Oriente Médio. Com o crescimento da oferta ficando para trás do crescimento da demanda nos próximos meses, continuamos antecipando preços mais altos para o petróleo", afirmou Staunovo, em comentários publicados pela Reuters.
O portal do setor de viagens aéreas AviationPros afirmou que as companhias aéreas devem consumir 321 bilhões de litros de combustível em 2022, em comparação com um consumo de 359 bilhões de litros em 2019.
"A US$ 192 bilhões, o combustível é o maior item de custos do setor em 2022", afirmou, acrescentando que o insumo representava 24% dos custos gerais, contra 19% em 2021. "Este valor se baseia no preço médio esperado para o petróleo Brent de US$ 101,20 por barril e de US$ 125,50 para o querosene de aviação".
Embora o combustível seja responsável por cerca de um quarto dos custos em 2022, uma caraterística específica do mercado de combustíveis deste ano é o alto spread entre os preços do petróleo bruto e do combustível para motores a jato, observou a AviationPros.
"Este crack do combustível para jatos continua bem acima dos padrões históricos, principalmente devido às limitações de capacidade nas refinarias", afirmou. "Os subinvestimentos nesta área podem fazer com que o spread continue elevado em 2023. Ao mesmo tempo, é provável que os altos preços do petróleo e dos combustíveis venham fazer com que as companhias aéreas melhorem a eficiência dos combustíveis, tanto através do uso de aeronaves mais eficientes como por meio de decisões operacionais".
Enquanto isso, a previsão da American Automobile Association é de que 47,9 milhões de pessoas viajem 80 quilômetros durante o fim de semana do feriado do Dia da Independência dos EUA, que começa no dia 30 de junho e se estende até 4 de julho.
A AAA disse que suas projeções para quilômetros viajados representam um aumento de 3,7% sobre 2021, trazendo os volumes de viagens para pouco abaixo dos níveis de 2019.
"A maior surpresa – as viagens de carro – vai registrar um novo recorde, apesar dos preços historicamente altos da gasolina, com 42 milhões de pessoas caindo na estrada", afirmou a AAA num post de blog. "Com estradas congestionadas e aeroportos lotados, a AAA quer preparar os viajantes para que possam ter uma comemoração de 4 de julho sem estresse".
O debate sobre os preços da gasolina - se são altos o bastante para gerar uma destruição da demanda ou se estão dentro do que é acessível para o americano médio, com mais economias hoje que em anos anteriores de viagens de verão graças à ajuda do governo durante a pandemia - está no centro dos mercados de petróleo, enquanto o preço do galão nas bombas se mantém obstinadamente perto de US$ 5.
O governo Biden disse esta semana que estava estudando com mais atenção do que nunca o seu plano para apresentar um “feriado fiscal” para a gasolina, a fim de tornar o combustível mais acessível para os norte-americanos.
Na segunda-feira, a gasolina atingiu, em média, US$ 4,98 por galão pelos Estados Unidos, recuando em relação ao preço recorde de US$ 5,01 no dia 13 de junho, segundo a American Automobile Association. O governo federal taxa a gasolina em 18,3 centavos de dólar por galão, e o diesel a 24,3 centavos de dólar por galão.
A suspensão dos impostos sobre a gasolina seria aplicada por um período pré-determinado. Alguns estados já adotaram ou propuseram uma moratória sobre os impostos estaduais que são aplicados sobre a gasolina. Mas, até agora, apenas algumas poucas assembleias legislativas estaduais adotaram a suspensão dos impostos sobre a gasolina de um jeito ou de outro, entre eles Maryland, Geórgia, Connecticut, Nova York e Flórida.
A ideia também ganhou força no Congresso nos últimos meses, pois o custo de bens de consumo como alimentação e vestuário também está subindo, pressionando os bolsos dos consumidores vindo de várias direções. Várias versões diferentes de uma moratória federal do imposto sobre a gasolina foram propostas tanto na Câmara como no Senado – uma das quais suspenderia o imposto pelo resto de 2022 – mas elas ainda precisam passar pelas duas casas.
O Presidente Joe Biden afirmou na segunda-feira tinha "esperança de ter uma decisão, com base nos dados que estou buscando, até o final da semana".
A Secretário do Tesouro, Janet Yellen, também afirmou que “vale a pena considerar” um “feriado” federal sobre o imposto da gasolina, acrescentando que o governo Biden estava disposto a trabalhar com o Congresso nesta questão.
Mas outros membros do governo têm sido mais reticentes quanto à possibilidade de suspender a cobrança dos impostos federais e qual seria seu impacto sobre as receitas necessárias para projetos como reparos de estradas. Isso inclui a própria czar de energia de Biden, Jennifer Granholm, Secretária de Energia.
"Parte do desafio com o imposto sobre a gasolina, claro, é que ele financia as estradas, e acabamos de preparar um grande projeto de lei de infraestrutura para ajudar a financiar as estradas", Granholm disse no programa "State of the Union", da CNN, no domingo. "Então, se eliminarmos o imposto sobre a gasolina, isso retira o financiamento que acabou de ser aprovado pelo Congresso para fazermos isso".
Granholm não é a única a alertar que uma moratória federal dos impostos da gasolina poderia ter impactos negativos e imprevistos sobre os americanos.
A Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, disse em um estudo que diversos fatores afetam os preços de varejo da gasolina, incluindo o custo do petróleo bruto, custos de refinamento e distribuição e os lucros, além dos impostos.
"No caso do “feriado” dos impostos sobre a gasolina, os fornecedores podem capturar parte do benefício econômico da redução de impostos se os preços das bombas não caírem no valor total do imposto suspenso", disse o estudo da Wharton, acrescentando: "Isso pode acontecer se a ‘elasticidade da demanda’ (flexibilidade do consumidor) para a gasolina for bastante baixa, dando aos fornecedores mais oportunidade de capturar os benefícios da redução de impostos".
Isto basicamente significa que está nas mãos dos atacadistas de combustíveis repassar ou não o custo para os consumidores. Atualmente, não há garantia de que farão isso, disse o site de finanças pessoais Kiplinger num blog publicado na quinta-feira.
"Há certa preocupação de que as companhias petrolíferas não repassem toda a economia para os consumidores se o imposto federal sobre a gasolina for suspenso”, afirmou o Kiplinger. "O projeto de lei hoje no Congresso aborda esta questão, afirmando que a "política do Congresso" é que os "consumidores recebam imediatamente o benefício da redução de impostos" e que "os produtores de combustíveis para transporte automotor e outros concessionários tomem as medidas necessárias para reduzir os preços de tais combustíveis, de modo a refletir tal redução”. No entanto, a política não tem garras".
O site Kiplinger diz que há apenas uma cláusula, de imposição fraca, que permite que o Departamento do Tesouro dos EUA "use todas as autoridades aplicáveis para garantir que o benefício da redução de impostos... seja recebido pelos consumidores". Não existem multas específicas ou outras sanções pelo descumprimento da lei.
Enquanto isso, o Comitê para Orçamento Federal Responsável afirmou, num relatório publicado em fevereiro, que a moratória federal para o imposto sobre a gasolina poderia reduzir as receitas fiscais oriundas do derivado em até US$ 20 bilhões, dependendo de quando e de como a moratória for aplicada.
"Embora a suspensão do imposto sobre a gasolina possa reduzir os preços na bomba, ela irá aumentar ainda mais a demanda pela gasolina e outros bens e serviços numa altura em que a economia tem pouca capacidade para absorvê-la", afirmou a comissão em parte. "O resultado poderia ser taxas de inflação ainda mais elevadas em 2023".