Por Barani Krishnan
Investing.com -- O déjà vu dos lockdowns de 2020 na China está impactando os ânimos no mercado de petróleo, mesmo no momento em que o impasse entre União Europeia (UE) e Rússia em relação à Ucrânia sugere que os preços da commodity não têm outro caminho a trilhar exceto o de alta.
O Brent, referência global de preços, e o petróleo WTI, referência dos mercados norte-americanos, seguiam rumo à terceira semana de perdas num universo de quatro semanas, com a perspectiva de crescimento mundial mais fraco, taxas de juros mais altas e restrições devido à Covid em Xangai, o centro financeiro da China.
O Brent, negociado em Londres, caía US$ 2,14, ou 1,95%, para US$ 106,22 por barril às 16:40h. Na semana, o Brent apresentou perda de 4,9%, ocorrida após o ganho de quase 9% na semana passada e a queda de 13% nas duas semanas anteriores. Se os recuos continuarem, abril será o primeiro mês no negativo para o Brent este ano.
O petróleo WTI, negociado em Nova York, registrava uma redução de US$ 2,02, ou 1,95%, para US$ 101,73. Assim como o Brent, o WTI apresentou queda de 4,9% na semana e volatilidade semelhante à referência de preços do Reino Unido nas três semanas anteriores.
"Os riscos estão certamente mais voltados para a alta, levando-se em conta a guerra na Ucrânia e um potencial embargo às exportações russas, mas os lockdowns na China e o risco de uma desaceleração econômica motivada pelo Fed também são significativos", afirmou Craig Erlam, chefe de pesquisa para a Europa na plataforma de negociação online OANDA.
A Bloomberg publicou que a demanda da China por gasolina, diesel e combustível para a aviação em abril deverá encolher 20% em relação a um ano atrás, segundo pessoas familiarizadas com a indústria energética do país.
Isso equivaleria a uma queda no consumo de petróleo bruto de 1,2 milhão de barris por dia, disseram, e será o maior impacto sobre a demanda desde o lockdown de mais de dois anos atrás em Wuhan - a cidade do centro da China onde a Covid-19 foi identificada pela primeira vez.
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, também assustou os mercados com uma fala agressiva durante a reunião do FMI e do Banco Mundial esta semana. Powell disse que seria "adequado" que o banco central se movimente mais rápido e com mais peso em relação às taxas de juros - um forte sinal de que o comitê de decisão sobre as taxas de juros do Fed aprovaria um aumento de meio ponto na sua próxima reunião, entre os dias 4 e 5 de maio, após uma elevação anterior de apenas 0,25 ponto.
"Alguns temem que um aumento de 50 pontos base nos juros seja o primeiro de muitos e possa desacelerar a economia e a demanda por petróleo", escreveu Phil Flynn, analista de energia do Price Futures Group em Chicago, em comentário.
"Não se trata apenas de um ciclo mais apertado que perturba os investidores do dia para a noite, mas também de se precificar um aumento de juros de 50 pontos base até setembro por parte do Banco Central Europeu. O Banco do Japão, por outro lado, quer permanecer dovish, mas teme que o rumo dos EUA e da Europa venha a forçá-lo a mudar de rota".
O governo alemão irá reduzir as suas previsões de crescimento para 2022 de 3,6% para 2,2%, disse uma fonte do governo.