SÃO PAULO (Reuters) - O Plano Decenal de Expansão de Energia 2024 do Brasil prevê que a produção de petróleo do país poderá dobrar em relação ao nível atual, para 5 milhões de barris/dia, número estável em relação ao plano anterior, informou nesta quarta-feira a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que elaborou o documento.
A produção de petróleo do país em julho somou 2,47 milhões de barris/dia, segundo o dado mais atual da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
O plano, colocado em consulta pública pelo Ministério de Minas e Energia até o dia 7 de outubro, manteve a expectativa de produção de petróleo do país no horizonte de dez anos, na comparação com o plano divulgado no ano passado, apesar de recentes cortes de investimentos da Petrobras (SA:PETR4).
A estatal, a maior produtora de petróleo do país, responsável atualmente por mais de 2 milhões de barris/dia, anunciou neste ano um corte de investimentos de cerca de 40 por cento ante o plano anterior, para 130 bilhões de dólares em 2015 e 2019.
No plano, a estatal previu 2,8 milhões de barris/dia até 2020, bem abaixo dos 4,2 milhões de barris estimados no programa de investimentos anterior.
O plano decenal prevê investimentos em expansões de 1,4 trilhão de reais em 10 anos no Brasil, com petróleo e gás respondendo por cerca de 70 por cento do total, cabendo ao setor elétrico fatia de aproximadamente 27 por cento, enquanto a soma dos investimentos totais em biocombustíveis líquidos deverá representar 2,6 por cento, segundo a EPE.
Do total previsto na produção de petróleo, dois terços devem vir do pré-sal, segundo a EPE.
Com a demanda por petróleo projetada em 2024 em aproximadamente 3 milhões de barris de petróleo por dia (bpd), a estatal EPE estimou um excedente de 2 milhões de bpd, que deverá ser direcionado à exportação.
A EPE não entrou em detalhes sobre o impacto do corte de investimentos projetado pela Petrobras para os números de produção de petróleo.
Em relação ao gás natural, projeta-se para o período decenal um incremento na produção líquida potencial de 56 milhões de metros cúbicos por dia (m³/d), para 99 milhões de m³/d em 2024.
"Consequentemente, espera-se forte ampliação da participação do gás nacional na oferta total de gás natural", disse a EPE.
RENOVÁVEIS
A EPE ainda estimou uma alta de mais de 50 por cento na produção doméstica de etanol, para 44 bilhões de litros em 2024, ante expectativa de 48 bilhões de litros do plano decenal anterior.
Com o setor de etanol em crise, a EPE tem reduzido suas projeções gradativamente. No plano decenal encerrando em 2022, a previsão era de 53,8 bilhões de litros.
"Há, por trás dessa projeção, uma expectativa de crescimento médio de 2,3 por cento ao ano da demanda global de combustíveis para a frota total de veículos leves do Ciclo Otto, sendo que, em 2024, 79 por cento deste total será composto por veículos flex fuel..."
ELETRICIDADE
Apesar do expressivo aumento projetado na produção de petróleo, a matriz energética brasileira deverá ter 45 por cento de participação de fontes renováveis em 2024, patamar bem superior à média mundial de 13,5 por cento, afirmou a EPE, o que limitará emissões de gases de feito estufa, permitindo que metas ambientais sejam atingidas.
"Parte importante do resultado de uma matriz energética nacional limpa deve-se à elevada participação das fontes renováveis na capacidade instalada de geração elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), que deverá se manter em torno de 84 por cento em 2024", disse a EPE.
No horizonte decenal, a EPE afirmou que haverá crescimento da participação do parque eólico, que deverá responder por 11,5 por cento da capacidade instalada em 2024 (ou 23,9 mil MW), "refletindo a competitividade dessa fonte".
Apesar de uma expansão significativa de mais de 27 mil MW de capacidade de geração hidráulica, sua participação relativa deverá cair mais de 10 pontos percentuais, para 57 por cento, em 2024.
A energia solar deverá atingir 7 mil MW ao fim do horizonte decenal (ou cerca de 3 por cento na capacidade instalada total).
O Brasil deve aumentar sua capacidade instalada de geração de energia elétrica em 73 mil MW até 2024, para 206,4 mil MW, ante o total em 2014.
(Por Roberto Samora)