Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O preço da soja no porto de Paranaguá, um dos referenciais do Brasil, atingiu nesta segunda-feira um novo recorde de 156,02 reais por saca, superando a máxima histórica anterior atingida em 2012, com a demanda aquecida reduzindo fortemente os estoques da maior safra já colhida pelo país, informou o centro de estudos Cepea.
As cotações da oleaginosa no Brasil, maior produtor e exportador global, já estavam renovando recordes nominais no último mês. Mas o valor desta segunda-feira também supera a marca de 153,40 reais por saca do dia 31 de agosto de 2012 (máxima real até então, já considerando a inflação), em meio a preocupações com o plantio da nova safra brasileira devido à seca.
O valor da soja, o principal produto de exportação do país, subiu 80% em 12 meses, com a China concentrando suas compras no Brasil durante o primeiro semestre, ao mesmo tempo em que o câmbio torna o produto brasileiro mais competitivo para compradores, favorecendo negócios com o exterior.
"O ritmo acelerado de processamento e a aquecida demanda, especialmente externa, reduziram rapidamente os estoques domésticos de soja e derivados, mesmo em um ano de recorde de produção", disse o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, em sua última análise do mercado da oleaginosa.
O Brasil produziu 124,8 milhões de toneladas em 2019/20, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
"Agora, a disputa acirrada pelo produto restante e os valores altos da paridade de exportação, sustentada pelo dólar valorizado, estão alavancando as cotações domésticas...", acrescentou.
"O lado preocupante para os consumidores é que esse cenário altista pode continuar na próxima temporada 2020/21. Isso porque mais da metade da safra de soja (2020/21) já foi vendida e, agora, os sojicultores já estão cautelosos nas novas vendas, devido ao clima quente e seco, que geram incertezas quanto ao volume de soja a ser produzido", disse o Cepea.
À Reuters, a consultoria AgRural afirmou que o plantio de soja da safra 2020/21 do Brasil deverá avançar pouco nos próximos dias diante da escassez de chuvas, ampliando um atraso que afetará a oferta da oleaginosa em janeiro, quando normalmente já há colheitas mais volumosas da nova temporada.
Os preços dos derivados também estão em patamares elevados. As indústrias alimentícias do Brasil relatam não conseguir competir com as de biodiesel nas aquisições do óleo.
"Este coproduto está sendo ofertado acima dos 7.000 reais/tonelada, cenário não visto desde 2002...", disse o Cepea.
Na última semana, os preços se firmaram ainda mais por fatores externos, após o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) ter relatado estoques norte-americanos abaixo das expectativas.