SÃO PAULO (Reuters) - A falta de chuvas nas últimas semanas já prejudicou de maneira definitiva o potencial da safra de soja do Centro-Oeste brasileiro, com impacto para a colheita total do país, disseram entidades do setor nesta sexta-feira.
A consultoria INTL FCStone estimou nesta sexta a safra de soja do Brasil 2014/15 em 92,8 milhões de toneladas, ainda um recorde, ante 93,5 milhões da previsão de janeiro.
Os problemas para a colheita total do país só não foram maiores porque as condições em outros Estados produtores, como o Rio Grande do Sul, estão boas.
"A seca de janeiro em algumas regiões do Centro-Oeste prejudicou as lavouras, especialmente no Estado de Goiás e Mato Grosso (este em menor intensidade)", disse a consultoria em nota.
"Em Goiás, as produtividades observadas no início da colheita são variadas e a expectativa é de uma quebra na produção do Estado."
A projeção para a produção de Goiás foi reduzida em 8,3 por cento, para 8,85 milhões de toneladas, ante relatório de janeiro. Para Mato Grosso, a queda na expectativa foi de 0,6 por cento, para 27,15 milhões de toneladas.
A projeção da FCStone para a safra nacional só não foi menor devido a uma alta de quase 400 mil toneladas na safra do Rio Grande do Sul, onde as chuvas têm sido abundantes.
No cálculo da Federação de Agricultura de Goiás (Faeg), as perdas já se aproximam de 20 por cento da produção total de Goiás, ou 2 milhões de toneladas ante a expectativa inicial.
"Muita gente diz que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas aqui caiu. No ano passado sofremos com a seca e esse ano novamente. Estou assustado", disse em nota o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, que pede que o governo estadual decrete situação de emergência para permitir renegociações de dívidas.
Segundo dados da Somar Meteorologia, as chuvas acumuladas em Goiás em janeiro ficaram cerca de 60 por cento abaixo da média histórica. Na metade sul de Mato Grosso, as precipitações foram a metade da média.
Na avaliação do diretor técnico da Aprosoja-MT, associações que reúne produtores de Mato Grosso, Nery Ribas, a falta de chuvas já consolidou quebra de potencial produtivo no Estado.
"A fase de enchimento de grãos, que remete à produtividade e à produção, foi bastante afetada. A gente vai ter uma redução de safra", disse Ribas, sem estimar um índice de perda de potencial.
COLHEITA
Por outro lado, o tempo seco nos últimos dias ajudou os trabalhos de colheita em Mato Grosso.
Os trabalhos avançaram nesta semana, embora num ritmo que a deixou mais atrasada na comparação com o mesmo período do ano passado, repercutindo o atraso no plantio provocado pela seca de setembro e outubro.
A colheita no Estado, o maior produtor de grãos do país, avançou para 17 por cento da área plantada na última semana, avanço de 6,6 pontos percentuais ante a semana anterior, mas atrás do índice de 21,7 por cento registrado um ano atrás, informou o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
No relatório da última sexta-feira, o Imea registrou que a colheita estava praticamente no mesmo ritmo da safra anterior.
"Colheu-se a soja precoce, por isso que estava parelho. Agora está se colhendo a soja que teve um atraso de plantio", disse Ribas.
PREVISÃO
As perdas contabilizadas até agora não poderão ser revertidas, porque o período sem chuvas em janeiro foi longo demais, disseram os especialistas,
No entanto, chuvas previstas para até a próxima semana deverão ajudar a impedir quebra maior.
"Os próximos cinco dias devem ter chuvas generalizadas sobre o Sudeste e parte norte-nordeste do Centro-Oeste, incluindo Goiás, por conta de áreas de instabilidade organizadas por uma frente fria no oceano", disse nesta sexta-feira a Somar Meteorologia.
(Por Gustavo Bonato)