SÃO PAULO (Reuters) - A produção de açúcar na segunda quinzena de agosto totalizou 3,26 milhões de toneladas no centro-sul do Brasil, registrando queda de 6,02% na comparação com igual período da safra passada, informou a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) nesta quinta-feira.
A produção na principal região para fabricação de açúcar do mundo veio em linha com o esperado em uma pesquisa divulgada previamente pela S&P Global Commodity Insights.
Mas a produção de açúcar caiu mais do que o total processado de cana no período, que somou 45,07 milhões de toneladas, com redução anual de 3,25%, uma vez que o setor destinou maior volume da matéria-prima para a fabricação de etanol, cujas vendas estão fortes.
Além disso, a indústria lida com problemas de qualidade da cana em meio à seca e queimadas.
O "mix" de cana para açúcar caiu a 48,85%, ante 50,75% na mesma quinzena da safra anterior. Por outro lado, o direcionamento da matéria-prima para etanol aumentou a 51,15% do total processado.
Segundo a Unica, os dados de produção da segunda quinzena de agosto ainda não retratam de forma efetiva o impacto das queimadas nas lavouras do centro-sul, especialmente em São Paulo, onde os incêndios ocorreram de forma mais intensa a partir do dia 22 de agosto.
Levantamento parcial realizado pela Unica junto a empresas responsáveis por cerca de 75% da produção do Estado de São Paulo indicou que pelo menos 231,83 mil hectares de cana foram atingidos pelos incêndios -- o número havia sido divulgado na semana passada.
"Os prejuízos associados à queima são diversos. Nas áreas em que a cana já havia sido colhida, o fogo pode exigir a necessidade de nova condução de tratos culturais, com suplementação de fertilizantes, pulverização foliar e aplicação de herbicidas, além do risco de não rebrota e o consequente replantio de parte da lavoura", explicou diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues.
Nas áreas onde a cana ainda seria colhida, o impacto dos incêndios pode incorporar a perda de qualidade da matéria-prima, a alteração do cronograma de colheita das usinas e a impossibilidade de processamento nos locais onde a colheita não pôde ser realizada em tempo hábil para evitar maior degradação da cana queimada, acrescentou ele.
Esse cenário deve ampliar a dificuldade para a fabricação de açúcar e intensificar a queda de rendimento agrícola da lavoura, concluiu o executivo.
No acumulado desde o início da safra 2024/2025 até 1º de setembro, a moagem atingiu 422,61 milhões de toneladas, um avanço de 3,93%.
O aumento ocorre após a antecipação dos trabalhos, mas o consenso do mercado é de uma redução no volume até o final da temporada, por conta da seca e agora dos incêndios.
A produção de açúcar do centro-sul do Brasil na temporada 2024/25 deverá ficar quase 9% abaixo do esperado, em meio ao tempo seco e queimadas nos canaviais que atingiram o Estado de São Paulo, maior produtor de cana do país, de acordo com avaliação da Czarnikow divulgada nesta semana.
VENDAS DE ETANOL
No mês de agosto, as vendas de etanol pelas unidades produtoras totalizaram 3,06 bilhões de litros, alta de 3,76% em relação ao mesmo período da safra 2023/2024.
Segundo a Unica, as vendas de etanol hidratado cresceram 6,81%, para 1,93 bilhão de litros, enquanto as de anidro (misturado à gasolina) caíram 1,03%, para 1,14 bilhão de litros.
Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), citados pela Unica, indicam que, na primeira semana de setembro o biocombustível seguia economicamente "muito vantajoso" aos consumidores em 70% do mercado de combustíveis leves, na comparação com o preço da gasolina.
Segundo o executivo da Unica, dos 338 municípios com preços apurados pela ANP na última quinzena, 206 deles apresentaram preço do etanol abaixo da paridade técnica com a gasolina.
No acumulado desde o início da safra até 1º de setembro, a comercialização de etanol pelas unidades do centro-sul somou 14,69 bilhões de litros, crescimento de 16,88%, sendo 671,24 milhões de litros destinados para exportação (-31,99%).
(Por Gabriel Araujo e Roberto Samora)