SÃO PAULO (Reuters) - Produtores de soja deverão ter margens reduzidas no Brasil na temporada 2015/16, o que poderá impactar o plantio que começa oficialmente em menos de dois meses, em um cenário de dólar valorizado e baixos preços das commodities no mercado internacional, disseram lideranças do setor e consultorias nesta segunda-feira.
A ADM, uma das maiores tradings de grãos do mundo, projetou uma queda de 77 por cento na rentabilidade dos produtores brasileiros em 2015/16.
A margem da nova temporada deverá ficar em 122,20 reais por hectare plantado no país, ante 539,03 reais em 2014/15. Será o menor valor pelo menos desde 2010/11, segundo dados apresentados nesta segunda-feira durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo.
"A queda dos preços nos últimos dois anos se reflete nas margens... Nessa safra (2015/16) ainda temos margens... Mas nem todo mundo vendeu soja com o dólar a 3,40 reais", disse o presidente da ADM na América do Sul, Valmor Schaffer, destacando as incertezas sobre o momento de venda da soja e de aquisição dos insumos.
A nova temporada está chegando a uma fase crítica de definições de área plantada e aquisição de fertilizantes, sementes e defensivos, num momento de forte alta do dólar ante o real, que encarece insumos importados.
A moeda norte-americana saltou à máxima de 12 anos nesta segunda-feira. Só em julho, o dólar subiu pouco mais de 10 por cento sobre o real, acumulando valorização de quase 30 por cento no ano.
COMPENSA PARTE
Na avaliação dos especialistas, o dólar mais alto não está sendo capaz de compensar as recentes quedas nos preços da soja na bolsa de Chicago, que baliza os negócios no mundo inteiro.
"A relação de troca soja/insumos piorou para o produtor rural", destacou a consultoria Clarivi em relatório nesta segunda-feira. "A correção média dos preços dos fertilizantes em algumas praças chega a 40 por cento. Isto implica dizer que haverá queda na margem da atividade agrícola."
A quantidade de soja necessária para comprar uma tonelada de fertilizantes subirá para 22,2 sacas em 2015/16, ante 19,8 sacas em 2014/15 e 18,56 sacas em 2013/14, segundo dados da Clarivi, com base em estatísticas da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
Para o presidente da Aprosoja Brasil, associação que representa produtores de grãos do país, a situação cambial gera muitas incertezas.
"Temos exemplos enormes de grandes produtores com operações descobertas. É um problema muito sério. Temos muitas operações (de compra de insumos e venda de soja) descasadas em dólar", Disse Almir Dalpasquale a jornalistas, durante o congresso da Abag.
"O produtor perdeu o 'timing' de fazer uma compra melhor (de insumos), na esperança de uma queda do dólar, e vai pagar mais caro... O produtor que não se antecipou pode trabalhar no limite ou no vermelho", afirmou Dalpasquale.
Na avaliação dele, o momento é aversão ao risco e redução dos investimentos em expansão de área plantada em 2015/16.
"Não é o momento de abrir área. Para abrir área, só se a pessoa estiver amparada em recursos próprios", comentou o presidente da Aprosoja Brasil.
Com as margens reduzidas, mas ainda positivas, a consultoria Céleres estimou nesta segunda-feira um pequeno crescimento da área plantada com a oleaginosa na nova temporada. A empresa projetou a área em 32,2 milhões de hectares, aumento de 2,3
> por cento ante 2014/15, marcando o nono ano consecutivo de expansão do plantio de soja no país.
"O avanço da área a ser semeada se torna cada vez mais marginal, ou seja, sem grandes aumentos, visto que os preços previstos estão abaixo dos custos de abertura em novas áreas", disse a Céleres, em relatório.
(Por Gustavo Bonato; edição de Roberto Samora)