Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - As operações de recompra de contratos por tradings, conhecidas como "wash out", para manter no Brasil volumes de soja que seriam exportados, estão aumentando neste ano para atender à crescente demanda de esmagadoras, disse nesta sexta-feira a consultoria Safras & Mercado.
Isso porque o aquecimento na indústria de carnes, devido a exportações firmes das proteínas bovina, suína e de frango, elevaram o consumo interno de farelo de soja, afirmou o analista da consultoria Luiz Fernando Roque.
"A estratégia de recompra não é incomum, mas os volumes envolvidos nesta modalidade estão maiores neste ano, assim como as importações da oleaginosa", afirmou o especialista.
Segundo ele, a baixa oferta de soja para as processadoras no país foi causada pelo alto nível de exportação, que deve fechar o ano com 80 milhões de toneladas, impulsionado pela formação de estoques na China.
"A China deve importar mais soja do que se esperava em 2020, para formar estoques e se proteger de uma eventual reeleição do presidente norte-americano, Donald Trump, que poderia voltar a incomodá-la em 2021", acrescentou.
Movido pela demanda do setor de proteína animal, o processamento de soja deve aumentar cerca de 2,16% neste ano, para 44,5 milhões de toneladas, de acordo com estimativa da associação brasileira da indústria Abiove.
A combinação entre exportações e consumo interno em alta esvaziou as reservas do maior país produtor e exportador da oleaginosa no mundo.
Segundo a Abiove, o estoque final de soja do país está estimado em 669 mil toneladas em 2020, ante 3,3 milhões de toneladas ao fim de 2019.
Neste contexto, o analista da Safras & Mercado acredita que o Brasil pode alcançar a marca de 1 milhão de toneladas importadas neste ano, tendo como principais fornecedores o Paraguai e a Argentina.
Somente nas duas primeiras semanas de julho, por exemplo, o ritmo de importações de soja do país saltou expressivos 930%, com a média diária de compras passando de 554,3 toneladas em julho de 2019 para as atuais 5,71 mil toneladas, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
"A baixa oferta de soja no Brasil, porque já exportamos demais, vai explicar o por quê dos preços continuarem elevados (no segundo semestre) e incentiva o produtor a plantar em 2020/21", afirmou Roque.
Nesta sexta-feira, a consultoria projetou alta de 1,8% na área semeada com a oleaginosa em 2020/21, com produção recorde de mais de 131 milhões de toneladas.
Para o analista, dificilmente a inclinação da China à aquisição de soja norte-americana, natural durante a entressafra do Brasil no segundo semestre, terá impacto sobre os preços domésticos do grão.
Desta forma, o único fator que poderá alterar o cenário de oferta e demanda para 2020/21 é o clima.
"O modelo climático brasileiro vai explicar o quanto vamos oferecer de soja (em 2020/21). Anos de La Niña são perigosos para safras do Sul do Brasil e da Argentina", alertou.