Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Com metade da atual safra de soja do Brasil colhida e um clima amplamente favorável, a previsão média de analistas e instituições já supera as projeções mais otimistas do início da temporada, mostrou nesta quarta-feira uma pesquisa da Reuters.
A colheita do país na temporada 2016/17 deverá alcançar um recorde de 106,8 milhões de toneladas, alta de quase 12 por cento ante a safra passada, segundo pesquisa com 19 fontes do mercado.
Na pesquisa publicada no final de outubro, quando o plantio ainda estava em andamento, a previsão média havia ficado em 102,8 milhões de toneladas, sendo que a estimativa mais elevada era de 105 milhões de toneladas.
No mês passado, pesquisa da Reuters havia apontado uma safra de 104,7 milhões de toneladas.
Nos últimos dias, diversas consultorias elevaram suas projeções, para números cada vez mais próximos de impressionantes 110 milhões de toneladas, em forte contraste com a safra passada, que teve as expectativas frustradas por chuvas irregulares em importantes regiões produtoras.
As avaliações ocorrem antes da divulgação, na quinta-feira, de uma atualização de previsões de safras de grãos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) também divulga seus números mensais.
A Céleres, por exemplo, disse na segunda-feira que a colheita pode alcançar 109,65 milhões de toneladas.
"As condições durante o ciclo produtivo foram realmente melhores que o projetado", afirmou a consultoria, em relatório.
Houve apreensão em alguns momentos da temporada, quando chuvas em grandes volumes causaram danos em lavouras de Mato Grosso, principal Estado produtor da oleaginosa. Especialistas disseram, no entanto, que embora tenham provocado prejuízos, as precipitações foram benéficas para uma área muito mais ampla.
Também podem haver surpresas positivas nas regiões do país que plantam em um calendário mais tardio e que estão recebendo bons volumes de chuvas.
"O clima está muito bom, principalmente no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e no Rio Grande do Sul, que possuem lavouras mais tardias em função de seus calendários agrícolas", disse o analista de grãos Aedson Pereira, da IEG FNP, divisão brasileira da consultoria norte-americana Informa Economics.
"No Rio Grande do Sul, o cenário é taxativo. O mercado vive a expectativa de produção histórica, com uma safra em torno de 17 milhões de toneladas e rendimentos recordes, acima de 51 sacas por hectare pela primeira vez na história", completou Pereira.
Segundo levantamento da AgRural, a colheita evoluiu bastante na semana do Carnaval, atingindo 47 por cento até 2 de março, ante 36 por cento uma semana antes e 41 por cento em 4 de março de 2016.
Em Mato Grosso, a colheita já alcança 78 por cento da área, ante 65 por cento na semana anterior e 64 por cento um ano atrás. Os trabalhos ainda não começaram de maneira efetiva no Rio Grande do Sul e no Matopiba ainda não chegaram a 10 por cento da área.
MILHO
Uma pesquisa, com 18 fontes, mostrou também que a safra total de milho do país deverá atingir um recorde de 90,5 milhões de toneladas, alta de 36 por cento em relação à temporada anterior, fortemente prejudicada pelo clima.
Levantamento feito no início de fevereiro apontava uma safra de 89,6 milhões de toneladas.
Analistas dizem que a safra de verão, que está em fase final de colheita, tem confirmado produtividades elevadas. A média de 12 fontes que revelaram o detalhamento de sua previsão indica uma produção de 30 milhões de toneladas nesta primeira etapa da temporada.
"Temos metade da safra (de verão) colhida e temos produtividades elevadas. Choveu muito bem. O Sul vai puxar a safra de verão", disse o consultor Carlos Cogo.
Para a safra de milho de inverno, a chamada "safrinha", a média de 12 estimativas aponta uma colheita de 60,6 milhões de toneladas.
O plantio da segunda safra de milho nos Estados do centro-sul do país já alcança 75 por cento da área total prevista, segundo levantamento da AgRural.
"Por enquanto está tudo bem (com a segunda safra). Muitas lavouras plantadas em janeiro e estão indo bem. Mas este é um ano difícil de se fazer previsões, porque o clima é neutro, e tudo pode acontecer", destacou o analista da Safras & Mercado, Paulo Molinari, referindo-se à ausência dos fenômenos climáticos El Niño e La Niña, que interferiram nas produtividades de temporadas anteriores.