Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Representantes da indústria de biodiesel no Brasil estão otimistas em relação à atenção que o novo governo eleito, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência a partir de 2023, deve dar ao setor, com espaço para avanço na mistura do biocombustível ao diesel a 14% em janeiro e 15% em março.
Durante evento nesta segunda-feira, o deputado federal e Presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio), Pedro Lupion (PP-PR), disse que recebeu a confirmação do ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, de que estes mandatos do biocombustível deverão seguir o cronograma previsto para o ano que vem, mas serão discutidos com a equipe de transição, conforme reportou a Reuters.
Apesar da incerteza sobre qual será a composição da próxima gestão petista, e das diferenças ideológicas entre o partido e muitos membros do agronegócio, a expectativa do parlamentar é positiva.
"Os governos do PT tiveram uma atenção, um carinho especial para o setor, e espero que continuem agora também", disse.
Segundo ele, é importante que a equipe de transição seja impactada pelo setor de biodiesel ainda neste ano, para que "não haja surpresas" com as decisões que serão colocadas pelo próximo governo após a posse, em 1º de janeiro.
A partir do evento desta segunda-feira, promovido pela BiodieselBR, a indústria pretende formular um documento com sugestões e demandas para encaminhar à equipe de transição.
O presidente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), Francisco Turra, comentou que entrou em contato diretamente com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, pelo telefone, pedindo que ele atuasse como um coordenador do agronegócio no Brasil durante a gestão do PT.
"Ele disse: estou agora descobrindo meu espaço, mas é o que eu pretendo fazer... Biocombustível é um compromisso nosso de chegar no B15 logo mais", afirmou Turra sobre a resposta dada por Alckmin.
Turra afirmou que, mesmo não tendo torcido pela eleição de Lula, agora é hora de sermos "um pouco Brasil" --em um gesto de unificação do país.
Compartilhando das expectativas de aumento na mistura de biodiesel ao diesel, o vice-presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Irineu Boff, também se posicionou com otimismo sobre a nova gestão do Executivo.
"Estamos confiantes com o novo governo e achamos que podemos crescer o que não crescemos em 2022", disse.
Ele lembrou que a indústria realizou investimentos para elevar a capacidade de produção ao B15 --com mistura de 15% ao diesel-- e passou a lidar com custos de produção elevados quando o mandato ficou em B10 em 2022, por decisão do governo devido a questões ligadas a custos e qualidade.
"Temos custo de produção maior porque nossa escala era para ser maior", afirmou.
Matéria-prima
Considerando que cerca de 70% da matéria-prima para produção do biodiesel é o óleo de soja, Boff ressaltou que uma safra maior da olaginosa no ciclo de 2022/23 favorece a elevação da mistura do biocombustível.
Atualmente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta um aumento de 21,3% para a produção da safra que está em fase de plantio, para um recorde 152,35 milhões de toneladas, apesar dos riscos para as lavouras da região Sul em função do fenômeno climático La Niña.
O ritmo de embarques de óleo de soja, que aumentou neste ano, também está no radar do setor.
"Os pipelines de exportação de óleo de soja estão acontecendo agora e precisamos da confirmação de 14% (da mistura de biodiesel ao diesel em janeiro) para não deixar essa matéria-prima ir para o mercado internacional", acrescentou o executivo da Ubrabio.
Lupion da FPBio, que apoiou a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições, lembrou que a tônica da atual gestão federal era focada nos preços dos combustíveis que chegariam ao consumidor final.
"A informação que chegava ao Executivo era que se aumentasse um ponto percentual de mistura, ia chegar um preço muito maior para o consumidor... Se dependesse do Ministério da Economia, estaríamos no B6 hoje", disse ele, citando um percentual de 6% na mistura, considerado muito baixo pelo setor.
Desta forma, o atual B10 "é frustrante", mas foi o máximo conseguido no atual cenário, afirmou ele.
O parlamentar ainda estará como representante da indústria do biodiesel na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, evento em que os membros do setor esperam que haja uma defesa mais firme pela redução de combustíveis fósseis.
(Reportagem de Nayara Figueiredo)