Setor de cana descarta ameaça com Bolsonaro e crê em diálogo intenso

Publicado 29.10.2018, 16:06
© Reuters. Máquinas colhem cana em Pradópolis, São Paulo

SÃO PAULO (Reuters) - O governo de Jair Bolsonaro (PSL), eleito no domingo com cerca de 55 por cento dos votos válidos, não representa uma ameaça às demandas do setor sucroenergético brasileiro, mas será necessário um forte diálogo com o novo presidente, que assume em 1° de janeiro de 2019, disseram lideranças do segmento nesta segunda-feira.

A cadeia produtiva de açúcar e etanol do país, um dos maiores produtores de ambas as commodities e principal exportador do adoçante, surpreendeu-se com declarações de Bolsonaro durante o período de campanha, incluindo sinalizações de que o Brasil poderia deixar o Acordo do Clima de Paris, além de um endurecimento nas relações comerciais com a China, um importador de açúcar do Brasil.

Posteriormente, Bolsonaro negou que fosse retirar o Brasil do acordo climático firmado após a COP-21.

Segundo o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha, já houve contato com a equipe de Bolsonaro, e a pauta prioritária no governo do PSL seguirá sendo o RenovaBio, a nova política nacional de biocombustíveis, em fase de regulamentação.

"Acho que agora é ter paciência... Ele (Bolsonaro) poderá ouvir o contraditório no governo", afirmou Rocha no intervalo de conferência sobre açúcar e etanol, promovida pela consultoria Datagro, em São Paulo.

A presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Elizabeth Farina, disse, no mesmo evento, que será necessário levar uma "agenda detalhada" acerca das necessidades do setor sucroenergético.

"Vamos ter de renovar temas de biomassa na energia elétrica e de biocombustíveis", afirmou Elizabeth, cuja entidade que preside é a mais importante do setor de cana no centro-sul do país.

A própria entidade divulgou um comunicado a respeito da vitória de Bolsonaro, dizendo que "muitos setores econômicos precisam de sinais claros e previsíveis de crescimento para retomar seus investimentos no médio e longo prazos e, assim, gerar mais empregos e renda".

"Em nosso caso, esperamos iniciar o fim de uma estagnação que se arrasta há 10 anos. Desejamos que o novo governo faça um bom governo", destacou a Unica em seu posicionamento.

© Reuters. Máquinas colhem cana em Pradópolis, São Paulo

O Brasil deve moer mais de 550 milhões de toneladas de cana neste ano, segundo estimativas de consultorias, com produção de cerca de 26 milhões de toneladas de açúcar e 30 bilhões de litros de etanol.

(Por José Roberto Gomes e Marcelo Teixeira)

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