Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - Produtores de etanol do Brasil podem perder uma grande fatia em seu maior mercado, o Japão, para o agronegócio norte-americano, depois de Tóquio se inclinar à pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Até recentemente, quase todo o etanol usado para produzir éter etil-terc-butílico (ETBE) para o consumo japonês vinha do Brasil, cujo etanol à base de cana-de-açúcar apresenta menos emissões de dióxido de carbono na comparação com o biocombustível dos EUA.
Mas, em meados de abril, o governo do Japão afrouxou as exigências de emissões do ETBE enquanto seu primeiro-ministro estava visitando os Estados Unidos. A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) acusou Tóquio de se desviar dos controles ambientais.
Mas os produtores norte-americanos de etanol aplaudiram o movimento, uma rara vitória comercial para os agricultores dos EUA que sofreram muito com a escalada da tensão comercial de Washington com a China.
"Pela primeira vez, a indústria de etanol dos EUA terá a oportunidade de competir por uma parte do mercado de mistura de combustíveis do Japão", disse Emily Skor, diretora do grupo de etanol Growth Energy, em Washington.
VÍTIMAS
Os produtores brasileiros de cana são as últimas vítimas de uma disputa comercial iniciada por Trump no ano passado.
A China impulsionou as importações de soja brasileira e ameaçou tarifas sobre a oleaginosa dos EUA. Os impostos sobre as importações de sorgo dos EUA fizeram com que os transportadores encontrassem novos destinos para 20 navios a granel no valor de mais de 200 milhões de dólares que já estavam a caminho da China.
As novas regras sobre o etanol no Japão começaram com uma consulta pública no ano passado para revisar os padrões de mistura de combustíveis.
No entanto, um diplomata brasileiro disse, sob condição de anonimato, que Brasília esperava que o movimento fosse uma forma de o Japão aliviar as preocupações de Trump sobre o superávit comercial do país com os Estados Unidos.
"Devido ao grande déficit comercial dos EUA, ficou claro que o etanol poderia ser um desses produtos usados para reduzir o desequilíbrio", disse o diplomata.
O Japão consome quase 45 por cento das exportações de etanol do Brasil, ou cerca de 800 milhões de litros por ano, incluindo os volumes usados para o ETBE, muitos dos quais são feitos pelos produtores norte-americanos.
Grande parte do ETBE usado no Japão já é feito nos Estados Unidos a partir do etanol de cana-de-açúcar brasileiro, de modo que as novas regras devem facilitar para os produtores mudarem rapidamente para as fontes de milho norte-americana.
Um relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) disse que a mudança na política japonesa poderia criar uma oportunidade de mercado para os produtores de etanol dos EUA de 366 milhões de litros, avaliados em cerca de 170 milhões de dólares.
"No final, o que você tirar do Brasil, você dá aos EUA", disse um trader de exportação de etanol.
A mudança aumenta a tensão na indústria do etanol. No ano passado, o Brasil impôs uma tarifa de 20 por cento sobre as exportações de álcool dos EUA.
Mesmo com a tarifa, as exportações de etanol dos EUA atingiram um recorde em fevereiro, graças em grande parte ao aumento da demanda brasileira, já que os preços mais altos da gasolina e os baixos preços internacionais do açúcar tornaram o etanol mais competitivo no mercado.
(Reportagem adicional de Michael Hirtzer, em Chicago)