Por Alessandra Prentice e Natalia Zinets
KIEV (Reuters) - Nos anos que antecederam a invasão russa da Ucrânia, a cidade portuária de Mariupol passava por uma renovação.
Mais de 600 milhões de dólares foram investidos em novas ruas, um hospital infantil, e novos parques para modernizar a cidade majoritariamente russófona como parte de uma campanha para demonstrar os benefícios de uma Ucrânia mais voltada ao Ocidente, após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.
"Nós vivíamos bem, felizes", disse Maria Danylova, de 24 anos, que havia se mudado para um apartamento novo na cidade em agosto do ano passado, depois de se casar.
Como muitos de sua família, ela trabalha para a gigante siderúrgica Metinvest, que investiu mais de 2 bilhões de dólares em duas unidades em Mariupol desde 2014.
"Era uma cidade livre em desenvolvimento, e que oferecia tudo que queríamos", disse, relembrando caminhadas nos finais de semanas com seus pais na orla restaurada da cidade.
Hoje, após dois meses de bombardeios, a cidade está em ruínas, e as ruas estão cheias de túmulos improvisados.
Em cada rua é possível ver prédios de apartamentos bombardeados, escurecidos pela fumaça. Veículos militares destruídos estão entre os escombros. Acredita-se que milhares de pessoas tenham morrido nos ataques.
Mariupol é um prêmio estratégico para a Rússia, e reforça seu acesso à península da Crimeia anexada, através de territórios controlados por separatistas favoráveis às forças russas.
Mas a intensidade do cerco danificou quase metade da cidade industrial para além da possibilidade de restauração, de acordo com as autoridades locais.
Os combates também paralisaram o trabalho nas várias instalações siderúrgicas da cidade, uma delas inclusive se tornou o último reduto das tropas ucranianas no local.
"Tudo que foi investido (em Mariupol) foi destruído", disse o ministro ucraniano de Infraestrutura, Oleksander Kubrakov, à Reuters.
Cercada por colunas de fumaça, a cidade de aço no Mar de Azov já foi sinônimo de poluição e da decadência industrial pós-soviética.
Seu destino mudou em 2014, com o início dos conflitos com os separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Controlada pelos rebeldes por um breve período, Mariupol foi recapturada pelas forças ucranianas, e se tornou a maior cidade na região do Donbass, no leste do país, sob o controle de Kiev.
Mais de 100 mil pessoas deixaram territórios separatistas na região para fazer uma nova vida em Mariupol, e as autoridades locais iniciaram um plano de revitalizar a cidade.