Por Natalia A. Ramos Miranda
SANTIAGO (Reuters) - Um processo de impeachment contra o presidente chileno, Sebastián Piñera, decorrente de alegações de irregularidades na venda de uma mineradora, seguirá para o Senado depois de ser aprovado por uma maioria da Câmara dos Deputados na manhã desta terça-feira.
Depois de quase 22 horas de debate, a decisão sobre o encaminhamento foi aprovada com os 78 votos mínimos necessários, 67 votos contrários e três abstenções. No Senado, a medida exigirá o patamar mais alto de dois terços dos 43 senadores.
O processo de impeachment contra Piñera ocorre na esteira do surgimento de novos detalhes do acordo no vazamento dos Pandora Papers, uma grande quantidade de documentos que revelaram transações em paraísos fiscais envolvendo figuras globais da política e dos negócios.
Entre eles, há documentos que parecem delinear um acordo a respeito da venda de 2010 da mina Dominga, um projeto amplo de cobre e ferro no Chile. À época, Piñera, um empresário bilionário, estava no ano inaugural de seu primeiro mandato presidencial.
O vazamento causou polêmica no Chile por dar a entender que o acordo, que envolveu uma firma ligada à família Piñera, estava contingenciado por um parecer ambiental regulatório favorável. A venda havia sido examinada e rejeitada pelos tribunais em 2017.
Piñera, político de centro-direita que encerrará o mandato no começo do ano que vem, rejeita as acuações e argumenta que todos os detalhes do contrato estavam no arquivo já analisado e que nenhuma irregularidade foi encontrada.
Durante a maratona de debate na Câmara, um deputado falou durante quase 15 horas na tentativa de prolongar a votação e permitir que outro parlamentar que cumpria um período obrigatório de quarentena de coronavírus se unisse aos procedimentos.
A controvérsia surge antes das eleições presidencial e legislativa de 21 de novembro, nas quais o candidato de direito José Antonio Kast aparece nas pesquisas de opinião à frente do rival de esquerda Gabriel Boric. Piñera não está concorrendo.