Por Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - Operadoras de telecomunicações viram o tráfego de banda larga fixa saltar entre 40% e 50% desde o início da pandemia de coronavírus, disse o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) nesta sexta-feira, admitindo pela primeira vez que medidas de distanciamento social para conter a pandemia podem acabar atrasando o cronograma do leilão de 5G.
Mesmo antes da Covid-19, o aguardado leilão do espectro de 5G tinha sido adiado em relação à data inicialmente prevista de março de 2020, dada a necessidade de investigar melhor possíveis interferências com outros sinais.
No final de março, a Anatel suspendeu indefinidamente os testes de campo para a frequência de 3,5 GHz, embora outras simulações técnicas com computadores sigam em andamento.
"A pandemia certamente gera algum impacto no cronograma e na própria cadeia de suprimentos do 5G no curto prazo... Isso é inexorável", disse o presidente da agência reguladora, Leonardo Euler de Morais, em uma live realizada pelo think tank local Aliança Conecta Brasil F4.
"No longo prazo, porém, estimula o 5G, a expansão da fibra e a infraestrutura de telecomunicações uma vez que testa a importância das soluções digitais para o endereçamento da crise", acrescentou.
Os comentários de Morais sinalizam uma ligeira mudança no discurso da Anatel desde o início de abril, quando a agência insistia na possibilidade de realizar o leilão de 5G ainda no final de 2020, classificando discussões sobre um novo adiamento como "prematuras". Ele também elogiou as operadoras de telefonia por manterem a qualidade do serviço prestado mesmo com o aumento do tráfego de dados durante a pandemia, bem como os esforços para expansão da rede de fibra ótica FTTH (fiber-to-the-home), que Morais vê como um passo crucial antes da chegada da tecnologia 5G.
Entre elas, a Oi (SA:OIBR3) planeja elevar os investimentos na rede FTTH para 4 bilhões a 5 bilhões de reais este ano, ante aproximadamente 3 bilhões de reais em 2019, segundo o presidente da empresa, Rodrigo Abreu.
"Nosso foco é justamente esse, temos a maior infraestrutura de fibra óptica do país. São quase 400 mil quilômetros e mais de 3 mil municípios atendidos", comentou Abreu, destacando a chinesa Huawei Technologies como um importante parceiro nessa jornada.
De acordo com o novo presidente da Huawei no Brasil, Sun Baocheng, a demanda por equipamentos de telecomunicações do grupo chinês ainda não sofreu impacto significativo desde o surto de coronavírus no país.
"A fibra óptica se tornou uma demanda básica para as pessoas, assim como água e eletricidade... Temos fabricação local e vamos continuar trazendo soluções e tecnologias mais recentes aos brasileiros", disse Baocheng, que substituiu Yao Wei como CEO nesta semana.