Por Howard Schneider e Lindsay Dunsmuir
(Reuters) - Autoridades do Federal Reserve, em duas reuniões de emergência no mês passado, mostraram-se crescentemente preocupados com a rapidez com que o surto de coronavírus estava prejudicando a economia dos Estados Unidos e afetando os mercados financeiros, levando-os a adotar "ação contundente", mostrou a ata dos encontros.
O documento divulgado nesta quarta-feira é o primeiro a mostrar detalhes de como as autoridades lançaram um plano de resgate econômico sem precedentes em tempo recorde no mês passado conforme a pandemia de coronavírus se espalhava, chegando a decisões que podem formatar a economia global por décadas no espaço de algumas semanas frenéticas.
Em reuniões emergenciais convocadas pelo chair Jerome Powell em 2 e 15 de março, os membros do Fed concordaram em cortar a taxa de juros de volta para zero, ampliaram o acesso a dólares para bancos centrais estrangeiros e retomaram a forte compra de ativos. O primeiro corte foi anunciado em 3 de março, após videoconferência realizada no dia anterior.
A ata joga alguma luz sobre a velocidade com que o as autoridades do Fed foram pressionadas a dar uma resposta historicamente vigorosa aos danos que os esforços para conter o surto estavam causando à economia dos EUA.
De acordo com uma contagem da Reuters, os Estados Unidos registraram mais de 400 mil casos confirmados do Covid-19, a doença ocasionada pelo novo coronavírus, e aproximadamente 13 mil pessoas já morreram.
Apenas cinco semanas antes do corte surpresa nas taxas de juros, em 3 de março, Powell e seus colegas haviam encerrado sua primeira reunião do ano, em 29 de janeiro, com um ar de otimismo cauteloso. Parecia que 2020 poderia ser um ano de firme crescimento e força contínua no mercado de trabalho, em uma novo movimento depois de um duro ano de 2019 no qual o Fed cortou, em três diferentes oportunidades, as taxas de juros para atenuar os efeitos da guerra comercial do governo Trump com a China.
Embora amplamente otimistas, os formuladores de políticas admitiram então que o novo coronavírus "exigiria vigilância de perto", de acordo com as atas daquela reunião divulgada em 19 de fevereiro, um dia antes de o mercado acionário dos EUA iniciar uma derrocada de um mês que reduziria seu valor em um terço.
Mesmo assim, em meados de fevereiro os formuladores de política monetária sentiram que o surto da nova variação do coronavírus na China provavelmente teria repercussões mínimas para o resto do mundo, talvez interrompendo o fornecimento de peças e bens finais das fábricas chinesas, mas sem representar uma ameaça de maneira mais ampla.
Mas o vírus se espalhou para os Estados Unidos, a crise se aprofundou na China e em outros lugares, e os modelos econômicos convencionais mostraram-se progressivamente menos capazes de mensurar o que estava acontecendo. O Fed, então, retirou seu manual de crise da década anterior e começou a tentar estabilizar os mercados financeiros, que passaram de máximas recordes a recuos intermitentes.
A maioria das autoridades do Fed agora concorda que a economia norte-americana está em uma recessão que pode reduzir a produção dos EUA em dois dígitos no segundo trimestre e tirar 20 milhões de pessoas, ou mais, do mercado de trabalho, pelo menos temporariamente, devido às medidas tomadas para conter a disseminação da Covid-19, a doença causada pelo coronavírus.