Por Andrew MacAskill
LONDRES (Reuters) - O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, enfrenta uma revolta entre sua base de apoiadores do Partido Conservador, que quer que ele renuncie após uma série de revelações sobre festas realizadas em sua residência oficial Downing Street durante períodos de lockdown contra o coronavírus.
De West Midlands até a Escócia, membros do Partido --responsáveis pelo levantamento de verbas e por reunir os eleitores em época de eleição-- estão se voltando contra o homem que muitos admiravam por sua exuberância, seu estilo desobstruído e por vezes bagunçado e por sua defesa da bandeira do Brexit.
John Strafford, de 80 anos, diretor da Campanha pela Democracia Conservadora, classificou Johnson como o pior primeiro-ministro que já viu na vida, e afirmou que as acusações sobre ele comparecendo a festas durante a pior crise sanitária do século mostraram que ele é inconsequente e irresponsável.
"As pessoas estão absolutamente enojadas com isso. É um sinal de arrogância do homem. A realidade é que Boris é um bobo da corte que quer ser rei", disse ele à Reuters.
"O maior fracasso é não ter julgamento, e julgamento é a qualidade mais importante para qualquer político".
Johnson já foi o queridinho dos membros de base do partido, que ajudaram a garantir sua vitória de lavada nas eleições de 2019, permitindo que ele cumprisse as promessas de finalmente tirar o Reino Unido da União Europeia. O premiê também foi aplaudido no ano passado por conta da rapidez do programa de vacinação do país sob sua liderança.
Mas a relação azedou rapidamente sob o impacto de uma série constante de revelações sobre o aparente desrespeito de Downing Street às regras de lockdown.
Na última delas, uma que certamente chateou seus partidários conservadores, o gabinete de Johnson teve de pedir desculpas à rainha Elizabeth após vir à tona a informação de que sua equipe fez uma festa em Downing Street na véspera do funeral do Príncipe Philip no ano passado, no momento em que reuniões em ambientes fechados estavam proibidas.
Johnson não estava presente nas festas, mas se desculpou ao Parlamento na quarta-feira por participar de uma reunião no Jardim de Downing Street em 20 de maio de 2020, quando o Reino Unido passava por um rígido lockdown.
Embora as bases não possam derrubar o líder, suas opiniões influenciam parlamentares e são eles os que votam nos dois candidatos finalistas na escolha da liderança do partido.
Uma autoridade do governo, Sue Gray, está investigando as acusações sobre as festas realizadas em prédios do governo durante os períodos de lockdown. Seu relatório é esperado em algumas semanas.
Os apoiadores de Johnson têm esperança que o documento não vá dizer se ele quebrou as regras conscientemente ou se deveria renunciar.
Mas Strafford disse que não importam as conclusões do relatório. Muitos membros da base já estão decididos.
Segundo ele, seu grupo de conservadores aprovou uma votação simbólica de não-confiança em Johnson no mês passado --antes das últimas revelações-- e seu WhatsApp foi inundado de mensagens de membros do partido dizendo que não apoiam mais o primeiro-ministro.
(Reportagem de Andrew MacAskill)