BRASÍLIA (Reuters) - Irritado pela repercussão negativa da sua fala sobre as mortes recordes causadas pelo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar a imprensa, culpou os governadores pelas mortes e se eximiu de responsabilidade sobre a crise causada pela epidemia.
"As medidas restritivas são a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem que perguntar para o Doria porque tem mais gente perdendo a vida em São Paulo. Perguntar para ele que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar", disse Bolsonaro a jornalistas em frente ao Alvorada, ao ser perguntado, mais uma vez, sobre o recorde de mortes por coronavírus no país.
No dia anterior, quando ouviu a mesma pergunta, Bolsonaro respondeu: "E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?. Sou Messias mas não faço milagres". A péssima repercussão, no dia em que foram registradas 474 novas mortes e o país passou de 5 mil óbitos, fez com que o presidente atacasse a imprensa mais uma vez.
"Não adianta a imprensa querer botar na minha conta estas questões que não cabem a mim. Não adianta a Folha de S.Paulo, O Globo, que fez uma manchete mentirosa, tendenciosa", reclamou Bolsonaro. Perguntado se não teria dito a frase então, respondeu, aos gritos: "Você não botou o complemento, você não botou o complemento!"
Bolsonaro reuniu-se nesta manhã com o grupo de deputados do PSL ainda fiéis a ele e colocou parte dos parlamentares para falar com os jornalistas. Entre outros, Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP) e Hélio Lopes (RJ) se revezaram para atacar a imprensa e defender o presidente, incitando o grupo de apoiadores que estava no Alvorada a levantar o tom no xingamento aos jornalistas.
Por mais de uma vez, Bolsonaro insistiu que a responsabilidade pelas mortes seria dos governadores e prefeitos que impuseram medidas restritivas de circulação. Perguntado se realmente achava que não tinha nenhuma responsabilidade, o presidente disse que a pergunta era "idiota" e não iria responder.
"Essa conta tem que ser perguntada para os governadores. Perguntem ao senhor João Doria (governador de São Paulo), ao senhor Covas (Bruno, prefeito de São Paulo"), de o porquê de terem tomado medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que responder. Vocês não vão colocar no meu colo essa conta.", afirmou.
Por mais de uma vez Bolsonaro minimizou a epidemia de coronavírus, que chegou a chamar de "gripezinha", e reclamou das ações de Estados e municípios que decretaram fechamento do comércio e instauraram ações de isolamento social. A posição do presidente levou a realização pelo país de diversos protestos e carreatas a favor do fim do isolamento e em "apoio a Bolsonaro".
Na manhã desta quarta, o presidente voltou a dizer, apesar das evidências em contrário, que "os países que fizeram isolamento horizontal foi onde morreu mais gente."
"Mais que não ser ouvido, eu fui achincalhado. Vamos cobrar a responsabilidade de quem é de direito", disse.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)