BRASÍLIA (Reuters) -O empresário bolsonarista Otávio Fakhoury reafirmou nesta quinta-feira, em depoimento à CPI da Covid do Senado, a defesa do tratamento precoce com medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus, e foi contestado por senadores da comissão, que afirmaram que ele estava confessando um crime.
No depoimento, Fakhoury disse que familiares adotaram esse tratamento e defendeu o direito das pessoas de se tratar como quiserem, consultados seus respectivos médicos. Ele foi contestado por senadores que apontaram que ele propagou a defesa de comportamentos de risco, e que isso seria crime.
"O doutor Fakhoury aqui confessou diversos crimes... agora, o senhor sabe o que acontece? É que, talvez estimulados pelo presidente Bolsonaro, eles acham que vão ficar impunes. Todos eles acham que vão ficar impunes", afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde.
Sem provas, o empresário colocou em dúvida a eficácia das vacinas, dizendo falsamente que os imunizantes não haviam concluído a fase 3 de testes. Na verdade, todas as vacinas aplicadas no Brasil tiveram os testes concluídos.
Senadores da CPI contestaram o depoente, e até a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) rebateu a declaração.
"As vacinas em uso no Brasil não são experimentais e todas tiveram seus dados de eficácia e segurança avaliados e aprovados pela Anvisa, garantindo o seu uso dentro das indicações aprovadas", disse a agência em nota.
"Todas as vacinas em uso no Brasil tiveram condução de estudo de fase 3 de pesquisa clínica e já encerraram esta etapa", acrescentou.
Confrontado com dados de quebras de sigilo bancário em poder da CPI, Fakhoury negou que repasses que ele fez para empresas que divulgavam informações falsas tinham como objetivo financiá-las. Ele justificou que os repasses se deram em razão de acordos comerciais.
ELEIÇÕES 2018
O empresário afirmou ter custeado financiamento grupos que imprimiram material de campanha na campanha eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018.
"Declarei todas as minhas ajudas de campanha", disse.
"Esses valores (para o grupo de apoiadores de Bolsonaro) não foram para nenhuma campanha política e por isso não estão declarados", reconheceu ele.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucional doações de empresas para campanhas eleitorais. O entendimento legal permite doações de pessoas físicas para campanhas, mas todas elas têm de ser registradas à Justiça Eleitoral.
Fakhoury é investigado pela CPI por suspeita de financiar um esquema de disseminação de notícias falsas e ele próprio propagar fake news.
Em seu depoimento, o empresário disse que é seu direito de não usar máscaras, de se posicionar contra as vacinas, advogar em favor do tratamento precoce com medicamentos sem eficácia e também questionar medidas de isolamento como o lockdown.
Essas medidas, defendidas por ele em redes sociais, contrariam o consenso científico para o enfrentamento da pandemia.
INVESTIGAÇÃO POR HOMOFOBIA
A CPI decidiu acionar o Ministério Público Federal para investigar o empresário pelo crime de homofobia. Durante o depoimento, Fakhoury foi confrontado com uma postagem de cunho homofóbico contra o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) em uma rede social.
Contarato, que chegou a assumir temporariamente a presidência da CPI, contestou o empresário diretamente e disse que ele deveria pedir desculpas a toda a população LGBTQIA+.
"A orientação sexual não define o caráter, a cor da pele não define o caráter. A minha família não é pior do que a sua. A mesma certidão de casamento que o senhor tem, eu também tenho", afirmou o senador.
Fakhoury tentou esclarecer a situação.
"Foi um comentário infeliz, em tom de brincadeira. Respeito a sua família como respeito a minha. Tenho amigos de todos os lados, de todas as orientações. Não tive a intenção de ofender. E se ofendi, e ofendi profundamente, peço desculpas. Não sou uma pessoa que discrimina nem raça, nem cor, nem orientação sexual. Não vejo problema nenhum em retratar, não insisto no erro. Umas das condições da pessoa cristã é reconhecer o erro e pedir perdão. E me retrato aqui diante de todos", disse, complementando que se retratava a todos que se sentiram ofendidos.
(Reportagem de Ricardo BritoEdição de Alexandre Caverni e Pedro Fonseca)