(Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta pediu uma fala única do governo federal no combate ao coronavírus e apontou que a população fica sem saber se segue as orientações do ministério, a favor do isolamento social para conter a disseminação do vírus, ou do presidente Jair Bolsonaro, que minimiza a pandemia e defende o fim do distanciamento.
Em entrevista ao "Fantástico", da Rede Globo, Mandetta chama de equivocadas as formações de aglomerações sem, no entanto, citar nominalmente Bolsonaro, que voltou a gerar acúmulos de pessoas em novos passeios que fez por Brasília e cidades do entorno no feriado prolongado da Páscoa. O ministro previu ainda dias duros com a pandemia de Covid-19 nos meses de maio e junho.
"Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e que a gente possa ter uma fala única, uma fala unificada, porque isso leva para os brasileiros uma dubiedade. Ele não sabe se ele escuta o ministro da Saúde, se ele escuta o presidente, quem é que ele escuta", disse Mandetta na entrevista.
"A gente imagina que os meses de maio e junho serão os meses mais duros para as nossas cidades", acrescentou.
O ministro está em rota de colisão com Bolsonaro e o presidente chegou a ameaçar demiti-lo sem citá-lo nominalmente por mais de uma vez.
Ao voltar a contrariar Bolsonaro e reiterar a defesa do isolamento social, Mandetta disse que o comportamento da sociedade é que vai ditar como será a pandemia nos próximos meses no Brasil.
De acordo com dados do Ministério da Saúde divulgados no domingo, existem 22.169 casos confirmados de Covid-19 no Brasil, com 1.223 mortes confirmadas como tendo sido causadas pela doença. Mandetta reconheceu que esses dados estão subnotificados devido à falta de exames para detecção do coronavírus.
"Essas semanas agora o comportamento da sociedade é que dita. Esse vírus, a história natural dele, como ele vai se comportar aqui, quem vai escrever essa história é o comportamento da sociedade, não é a polícia, o decreto. É como cada um de nós brasileiros vamos ter a consciência do cuidado individual, sendo o responsável pelo cuidado coletivo", disse Mandetta na entrevista divulgada no domingo.
"Quando você vê as pessoas entrando em padaria, entrando em supermercado, fazendo filas uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piquenique em parque, isso é claramente uma coisa equivocada", acrescentou.
Ao deixar o Palácio da Alvorada nesta segunda-feira, Bolsonaro não deu entrevista aos jornalistas que o aguardavam, mas gritou à imprensa antes de entrar no carro: "Para toda a imprensa: eu não assisto a Globo."
Nos últimos dias, por mais de uma vez, Bolsonaro desrespeitou as orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, a favor do isolamento social para conter a disseminação do vírus e voltou a circular por Brasília, provocando aglomeração e cumprimentando apoiadores. Ele visitou uma padaria na capital federal.
No domingo, durante videoconferência com religiosos, Bolsonaro disse que o coronavírus dá sinais de que começa a ir embora, apesar de os dados indicarem o oposto.
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)