BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal realiza nesta quinta-feira operação que tem como alvos autoridades ligadas à prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em um caso relacionado à suspeita de fraude no cartão de vacinação contra a Covid-19 do ex-presidente Jair Bolsonaro, disse à Reuters uma fonte com conhecimento da operação.
A operação tem entre seus alvos o ex-prefeito da cidade Washington Reis, e agentes da Polícia Federal cumprem dois mandados de busca e apreensão emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os mandados estão sendo cumpridos em Duque de Caxias e no Rio de Janeiro.
Em comunicado oficial, sem citar a relação da operação com o caso de Bolsonaro e sem mencionar o ex-prefeito, a PF disse que a operação apura a inserção de dados falsos no sistema de informação do Programa Nacional de Imunização que teria sido realizada por agentes públicos de Duque de Caxias, apontados como responsáveis pela inserção desses dados inverídicos.
"A ação tem como objetivo, ainda, buscar a identificação de novos beneficiários do esquema fraudulento", disse a PF em nota.
Procurado, Washington Reis não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre a operação desta quinta.
Em março, a PF indiciou Bolsonaro no caso do cartão de vacinas. De acordo com a corporação, as investigações apontam que o registro de vacinação de Bolsonaro e de sua filha, Laura, foram feitos na cidade de Duque de Caxias pelo secretário de Saúde do município, o que é incomum. Apontam ainda que não há registros de que Laura Bolsonaro tenha ido ao município na data em que consta que teria sido vacinada.
Bolsonaro foi indiciado pelos crimes de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistemas de informações.
Após ser derrotado pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro de 2022, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, país que exigia a vacinação contra a Covid-19, com a filha e assessores próximos. Segundo o relatório de indiciamento da PF, a emissão dos certificados de vacina fraudulentos ocorreu "no intuito de obterem vantagens indevidas relacionadas a burla de regras sanitárias estabelecidas durante o período de pandemia".
Na ocasião do indiciamento, Bolsonaro disse que estava tranquilo e afirmou não dever nada. Acusou ainda a PF de fazer "uma investigação seletiva" e reiterou não ter se vacinado contra a Covid-19.
Durante a pandemia, Bolsonaro criticou por várias vezes a imunização contra a Covid-19, doença que matou cerca de 700 mil pessoas no Brasil. Bolsonaro também criticou em diversas ocasiões a vacinação de crianças e adolescentes, e afirmou que não permitiria que sua filha, então com 11 anos, fosse vacinada contra a doença.
(Reportagem de Ricardo Brito, em Brasília, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)