Por Marco Oehrl
Investing.com – Para os investidores de criptomoedas, 2022 é um ano a ser esquecido, e rapidamente. Do ponto de vista da tecnologia, a indústria avançou com importantes marcos, como a conversão do Ethereum em uma rede de prova de participação (PoS, Proof-of-Stake), em vez de prova de trabalho (PoW, Proof-of-Work), mas, do ponto de vista dos preços, as principais criptomoedas entraram em um colapso sem fim.
Fortes aumentos de juros provocaram profundas quedas nas criptos
O bitcoin afundou de US$ 48.000 para US$ 33.000 nas primeiras três semanas do ano. No entanto, a recuperação subsequente não foi o início de um rali até uma nova máxima histórica, e sim uma mera correção no mercado de baixa.
O principal fator que prejudicou o BTC e outras criptomoedas foi o número cada vez maior de bancos centrais forçados a tomar ações decisivas contra o aumento da inflação, com destaque para o Federal Reserve dos EUA. O presidente da instituição, Jerome Powell, já havia anunciado, no 4º tri de 2021, que a inflação não poderia mais ser tida como transitória, ou seja, a era de dinheiro barato em breve fecharia ao fim. Os mercados financeiros ficaram apavorados com a simples ideia disso.
O que se seguiu foi algo que os mercados achavam impossível, na medida em que nunca se viu um aumento tão rápido dos juros nos últimos quarenta anos. Embora a taxa básica do Fed estivesse em 0,25% no início do ano, acabou alcançando 4,50% em 14 de dezembro de 2022, máxima de 15 anos.
Feridas autoinfligidas pelas criptos
Embora a mudança na política monetária tenha alterado as regras do jogo para os mercados financeiros, as criptos também tiveram que enfrentar escândalos próprios.
A tecnologia blockchain, tão elogiada e tida como segura, mostrou-se suscetível a ataques digitais em diversas ocasiões, devido a erros humanos. Golpistas e hackers talvez tiveram um de seus melhores anos, na medida em que a quantidade que conseguiram surrupiar dos usuários alcançou bilhões de dólares.
E como se isso não bastasse para manter novos investidores fora da indústria, alguns dos ícones do setor acabaram se revelando grandes decepções.
Tudo começou com o fundador da blockchain Terra. Apesar dos alertas contra a ideia, ele decidiu estabelecer uma stablecoin chamada TerraUSD, lastreada ao valor do dólar. Mas, ao invés de manter reservas adequadas de dólares, ele decidiu adotar a opção mais barata, usando uma stablecoin algorítmica. Os investidores não conseguiam vender um TerraUSD por um dólar e, em vez disso, recebiam uma Terra LUNA que valia um dólar.
O TerraUSD foi usado em plataformas de empréstimos de criptos, como Anchor Protocol, para conseguir retornos extraordinários. Até 20% era possível, o que parecia tentador não apenas para investidores individuais de criptos em tempos de taxas de juros baixas, mas também para investidores institucionais que se esqueceram dos riscos decorrentes dos altos retornos, ainda mais intensificados com a alta alavancagem envolvida.
Fonte: Medium
No início de maio, o castelo de cartas que dava suporte à stablecoin começou a apresentar falhas e terminou caindo por terra completamente. Até hoje não foi esclarecido o que de fato aconteceu. O que é certo é que bilhões de dólares desapareceram do nada, assim como o fundador Do Kwon, que ainda é procurado pela Interpol.
Mais um escândalo: FTX
Embora milhares de investidores tenham tido seus sonhos de riquezas frustrados com as criptos, alguns dos projetos problemáticos sobreviveram. O fundador da FTX, Sam Bankman-Fried (SBF), não hesitou em socorrê-los. Ele distribuiu ou investiu centenas de milhões de dólares no setor, evitando um efeito dominó de falências, o que lhe garantiu a reputação de algo parecido com um JPMorgan (NYSE:JPM) da era das criptos.
Naquele momento, todos os players do mercado consideravam que a FTX e SBF eram a base da indústria. Uma figura permanente no setor, capaz de tirar o carrinho da lama em momentos de crise.
Porém menos de seis meses depois, a maré virou, e SBF e a FTX viveram seu próprio Armagedom pessoal.
Tudo começou com o fundador da Binance, Changpeng Zhao (CZ), que acusou SBF de promover políticas que prejudicavam o resto da indústria. Ele anunciou que venderia toda a sua carteira de FTX Token, já que não acreditava nos dados financeiros da plataforma. Isso também acabou abalando a credibilidade de SBF.
Esse foi o início de uma espécie de corrida bancária na FTX, forçando a corretora a suspender os pagamentos, devido à falta de liquidez. O token da FTX rapidamente se desvalorizou, vindo à luz que a FTX havia se apropriado indevidamente dos recursos dos clientes para financiar outras linhas de negócios.
A Binance e a FTX chegaram a firmar um memorando de entendimento, em que a primeira assumiria o controle da segunda. Embora isso tenha acalmado a situação por um breve período, também gerou acusações de que essa era a intenção de CZ desde o início.
Mas quando ficou claro que o buraco orçamentário só seria fechado com um aporte de US$ 10 bilhões, CZ acabou descartando o acordo. Com isso, todo o criptomercado colapsou, e o bitcoin atingiu uma nova mínima a US$ 15.500. O setor desperdiçou aquilo que lhe restava de confiança.
No último capítulo da triste história de 2022 para as criptomoedas, SBF foi preso nas Bahamas e extraditado para os EUA. Lá, enfrentará julgamento que pode acabar em uma longa sentença de prisão por fraude. Seus parceiros de negócios Caroline Ellison e Gary Wang já acusaram SBF e estão cooperando com a SEC.
Embora a história de SBF como importante player da indústria pareça ter acabado, o próximo capítulo das criptomoedas ainda não foi escrito. É difícil imaginar que pode ficar muito pior do que em 2022.