A pandemia da Covid-19 derrubou bolsas em todo o mundo e colocou em xeque o enquadramento do Bitcoin como reserva de valor. O criptoativo chegou a sofrer uma desvalorização de 50%. Entretanto, para o CEO da Hashdex, Marcelo Sampaio, foi a própria estrutura do mercado que ajudou no recuo da criptomoeda. Além disso, em entrevista ao Seu Dinheiro, Sampaio afirmou que, mesmo que a criptomoeda seja bastante volátil, pensar no Bitcoin como uma reserva de valor ao longo do tempo pode ser uma excelente ideia.
“Vejo o Bitcoin como um ativo superior em ordem de magnitude a todos os demais. Em termos de divisibilidade, ele é maior do que o ouro, em termos de escassez também por conta da própria estrutura e do halving”, destacou Sampaio.
Crise de liquidez afeta mais o Bitcoin
No que diz respeito à crise de liquidez aguda, Sampaio destacou que ela é mais exacerbada no caso das criptomoedas. Isso se dá, segundo ele, devido à ausência de um circuit breaker (interrupção de negociações por 30 minutos quando o Ibovespa cai mais de 10%) e às alavancagens altas associadas à liquidação automática das garantias oferecidas pelas exchanges para a negociação de contratos futuros.
“O que vimos agora foi que o investidor teve que vender ativos de melhor performance para não vender as posições deficitárias. Nesse caso, se vê que até o ouro teve problemas nessa crise de liquidez aguda”, afirmou Sampaio referindo-se à desvalorização, mais pontual que a do Bitcoin, do ouro.
Halving anima
Embora tenha admitido que o último mês foi difícil para o Bitcoin, Sampaio segue otimista sobre o criptoativo. Isso porque, segundo ele, dois eventos podem agitar as negociações: o halving, que irá ocorrer em maio, e a entrada de investidores institucionais, mesmo considerando que a regulação do setor possa atrasar essa entrada.
Sampaio ponderou que, apesar de ser difícil fazer previsões para o Bitcoin, há uma possibilidade que a cotação do criptoativo suba por conta do halving, que “coloca escassez no sistema”, provocando um ajuste no preço.
Ele ainda observou que, caso o halving provoque uma valorização do mercado como é esperado, isso pode fazer com que as altcoins superem o Bitcoin, como ocorreu em 2016. Segundo ele, isso pode ocorrer porque quando o Bitcoin se valoriza, muitos projetos em torno das criptomoedas alternativas são desenvolvidos ou concluídos nos meses seguintes, o que costuma levar à alta desses criptoativos.
Índice HDAI da Hashdex
O CEO da Hashdex também comentou, durante a entrevista, sobre os investimentos da empresa. Conforme Sampaio informou, a Hashdex está, atualmente, investindo seus fundos com base em produtos de renda fixa e no HDAI, o índice de referência criado pela empresa que realiza um rebalanceamento da carteira de criptoativos a cada três meses.
Sampaio explicou que para os criptoativos entrarem na carteira do índice HDAI há uma série de pré-requisitos, como a necessidade de terem uma alta capitalização.
“É preciso que o percentual do valor de mercado seja de 0,25% em relação ao mercado total, além do que o volume médio diário de negociação precisa ser no mínimo de US$ 4 milhões nos últimos 30 dias. Diante desses critérios, os dois ativos que entraram [no último rebalanceamento feito em março] na carteira são a Dash e o NEO”, comentou.
Sobre a Libra
Sampaio ainda teve tempo para opinar sobre o projeto de criptomoeda do Facebook, a controversa Libra. Para ele, o Facebook tem potencial para ser o primeiro grande caso de uso de criptoativos.
“Isso porque hoje a melhor alternativa para manter o dólar como reserva global é literalmente o Facebook. Penso que seria mais fácil para os Estados Unidos se eles deixassem uma empresa privada tocar o projeto de uma moeda digital, porque dificilmente eles deixariam de negociar o dólar no país. Além disso, há toda a questão da briga pela hegemonia entre Estados Unidos e China, que poderia ser intensificada com a criação de uma criptomoeda chinesa.
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